No dia da festa dos 100 anos, o Corpo Nacional de Escutas (CNE) recebe como prenda de aniversário a confirmação de que o número de escuteiros está a aumentar.
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"Durante a pandemia perdemos cerca de 6 mil jovens, mas, só este ano, já tivemos dez mil novas inscrições, maioritariamente de crianças com idades entre os 6 e os 10 anos", disse ao JN Ivo Faria, chefe nacional do CNE.
Com 67 mil inscritos e mais de 1030 agrupamentos em todas as regiões do país, o maior movimento católico português reúne-se hoje em Braga, a diocese onde, há cem anos, no dia 27 de maio, o arcebispo D. Manuel Vieira de Matos e o padre Avelino Gonçalves, fundaram a organização. Depois de um período de forte crescimento (em 2014, havia 70 mil inscritos no CNE), a participação foi diminuindo até aos anos da pandemia. "Estamos a crescer porque as famílias confiam em nós e sentem-se seguras ao confiar-nos as suas crianças e jovens", frisou o chefe nacional.
No mesmo ano em que a Comissão Independente revelou os números das denúncias sobre abusos sexuais na Igreja em Portugal - e depois de o CNE ter sido visado em algumas denúncias e de ter afastado um dirigente -, Ivo Faria diz que o movimento foi pioneiro quando, há alguns anos, criou um manual de boas práticas e instituiu condições de conduta para todos os dirigentes. "Nas atividades, um adulto nunca está sozinho com uma criança", garante.
Oficialmente, a organização é constituída pelos lobitos, pelos exploradores, pioneiros e caminheiros. A formação dos escuteiros começa aos seis anos com a admissão nos lobitos e termina aos 22, nos caminheiros.
Quando chegam aos 22 anos, o movimento considera que os jovens já receberam toda a formação que a organização pode dar e que estão prontos para, na sua vida, trabalhar para a construção de um Mundo melhor. Nessa altura, são convidados a permanecer no movimento e a fazer formação para dirigentes. Ao mesmo tempo, é feita a "cerimónia da partida" que é a despedida dos que vão abandonar a atividade no CNE.
Na freguesia de S. Pedro de Bairro, em Famalicão, a mesma mensagem foi passada por José Ferreira dos Santos aos filhos. O antigo chefe tem 89 anos e desde os 15, quando aderiu ao movimento, nunca mais parou.
De pais para filhos
Os sete filhos do homem que recebeu o Colar D. Nun"Álvares, a maior condecoração do CNE, foram escuteiros e, atualmente, a família continua na organização através de Pedro Santos, 49 anos, Ricardo Santos Carvalho, 23 anos, e Catarina Santos, 14 anos. Avô, filho e netos, embora com responsabilidades diferentes, continuam no movimento.
"O escutismo fez-me Homem", afirmou José Ferreira dos Santos. "É uma escola de valores que nos forma a nível pessoal e nos ensina a trabalhar em grupo", completou o neto Ricardo. "É aqui que me sinto feliz e olho para a vida do meu avô e sinto um orgulho enorme por ser escuteira como ele", disse a neta Catarina, ao JN.
Em Bairro, o CNE continua a reunir e a realizar atividades na sede construída no terreno comprado com donativos obtidos por José Ferreira dos Santos. Junto ao edifício, uma enorme placa recorda e agradece o trabalho do antigo responsável pelo movimento.
O filho de José entrou aos seis anos para o movimento e não tem dúvidas que "ser escuteiro é uma grande responsabilidade". "Estamos a ensinar os jovens a serem mais autónomos, mais independentes e, ao mesmo tempo, a saber trabalhar em grupo", finalizou Pedro Santos.
João Costa, ministro da Educação
Teve um grande impacto na minha formação
"O escutismo, enquanto movimento de educação não formal, já mudou e transformou a vida de milhares de crianças e jovens, desenvolvendo competências fundamentais como a autonomia, o trabalho em equipa, a interajuda e o serviço ao outro. A relação com a Natureza e a aprendizagem através do jogo têm garantido a eficácia do método escutista ao longo deste século, na medida em que mantém a sua atualidade. Pessoalmente, posso dar testemunho do grande impacto que o CNE teve na minha formação, desafiando-me a ir mais longe, dando-me aqueles que ainda hoje são os meus melhores amigos e ensinando-me que a felicidade está nas coisas simples da vida. Parabéns, CNE!"