É necessário conhecer e planear o turismo a nível concelhio para evitar efeitos negativos do número crescente de visitantes nas cidades. Esta é uma das ideias defendida na 9.ª edição das Conferências P3DT, que se iniciaram nesta quarta-feira, em Espinho.
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“É preciso fazer gestão e planeamento do turismo, porque esse é o problema que nós temos. Não temos turismo a mais, o que temos é uma falta de planeamento”, afirmou ao Jornal de Notícias Carlos Costa, professor da Universidade de Aveiro e orador nas Conferências P3DT | Políticas Públicas, Planeamento e Desenvolvimento do Território, que terminam nesta quinta-feira, em Espinho.
O docente questionou ainda: “Quantos são os municípios que têm um plano estratégico próprio, quantos têm técnicos especializados nesta área, ou cruzam a vertente do turismo com a vida local, com a vida da sociedade”?
Segundo Carlos Costa, o setor tem sido tradicionalmente gerido a nível central. “Quem sempre tratou das questões do turismo foram os ministérios, a Secretaria de Estado e o Turismo de Portugal. Os municípios sempre entenderam que o turismo era um fenómeno, uma questão de marketing, de atrair mais pessoas”, referiu, sublinhando que, por esse motivo, as autarquias “estiveram sempre um pouco ausentes desta área”.
Para o professor, é fundamental inverter esse paradigma: “É preciso que os municípios sejam parte ativa, porque os impactos do turismo são ao nível local. Os benefícios são fundamentalmente macroeconómicos e económicos, mas os impactos são locais e os municípios têm que entrar a toda a força nesta área”, defendeu.
Recuperação económica - versus - consequências perversas
Também José Alberto Rio Fernandes, presidente da Comissão Organizadora das Conferências P3DT, destacou a importância do turismo para o território e para “a recuperação da economia portuguesa”.
No entanto, deixou um alerta: “Nos últimos anos, começa-se a ver um pouco o lado negativo do turismo. É uma atividade que, como todas, tem que ser planeada e gerida. O turismo sem planeamento e sem gestão tem, de facto, consequências que também são perversas”.
Neste contexto, Rio Fernandes defende a análise de medidas já aplicadas em várias cidades europeias, como a cobrança de entrada em centros históricos (como em Veneza), a limitação do número de hotéis e de alojamentos locais, e até a regulação de lojas de souvenirs.
Há que dispersar fluxos
A presidente da Câmara de Espinho, Maria Manuel Cruz, que presidiu à sessão de abertura, também abordou o tema, sublinhando a mudança de paradigma: “Estamos a assistir a uma transformação profunda na forma como o turismo se relaciona com a cidade.”
E acrescentou: “Espinho enfrenta o desafio de equilibrar a atratividade turística com a qualidade de vida dos seus residentes.” Apesar disso, garantiu ao JN que “não há massificação de turismo em Espinho, mesmo na época balnear, quando há mais turistas, conseguimos viver muito bem”.
Já Sérgio Guerreiro, do Turismo de Portugal, destacou a importância do setor para a economia nacional. Recordando que, em 2024, Portugal registou mais de 30 milhões de turistas estrangeiros e receitas superiores a 27 mil milhões de euros, afirmou que o organismo “tem tido muita preocupação com a política de turismo em Portugal”.
“A atividade turística é uma atividade humana e tem impactos positivos e negativos (…) mas acreditamos que o turismo é uma força geradora de valor e de riqueza para o país”, sublinhou. Sérgio Guerreiro referiu ainda que a estratégia nacional tem apostado na “dispersão territorial e na dispersão de fluxos”, precisamente para aliviar a pressão sobre as zonas mais desenvolvidas.
Contrariando as críticas sobre a ausência de envolvimento local, assegura que os municípios têm estado envolvidos nas políticas públicas do setor: “Nós trabalhamos com entidades regionais de turismo [que integram os municípios]. Os municípios trabalham em conjunto dentro de uma região para resolverem os problemas”, explicou.