Matemáticos consideram que atuais dois indicadores não chegam. Governo diz que sugestões já são consideradas.
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Os atuais dois indicadores da matriz de risco já não chegam e começam a dar uma visão parcial da evolução da pandemia. Essa é a conclusão a que chegaram especialistas, num estudo apresentado na Ordem dos Médicos (OM), em que sugerem que se acrescente um outro fator: o da gravidade dos casos. Mas o Ministério da Saúde assegura que esses indicadores já são tidos em consideração.
A proposta, apresentada na quarta-feira e que resultou de um "trabalho de equipa" de especialistas do Instituto Superior Técnico e da OM, não deita fora os atuais dois indicadores: a incidência e a transmissibilidade (Rt). Mas complementa-os com mais três, que indicam a gravidade: letalidade, internamentos em enfermaria e internamentos em unidades de cuidados intensivos.
"É um indicador feito com conhecimento científico", garantiu o matemático e especialista em sistemas dinâmicos, Henrique Oliveira, considerando que a atual matriz "é lenta" e, sem "indicadores mais rápidos", a matriz começa a dar "uma visão parcial do problema".
"Estamos sempre a correr atrás da pandemia", lamentou Henrique Oliveira, referindo que as medidas para responder à pandemia estão "sempre com atraso".
Governo tem de decidir
Segundo o especialista, o novo indicador pode ser usado em qualquer sítio e a qualquer escala, permitindo que se adotem medidas para regiões ou concelhos.
"É uma ferramenta interessante para achatar a curva", sintetizou o bastonário dos Médicos, revelando que já entregou o estudo à ministra da Saúde e ao presidente da República, que chegou a defender mudanças na matriz de risco.
"O Governo terá de decidir", afirmou Miguel Guimarães. "O Ministério da Saúde acompanha diariamente e divulga, com regularidade, os vários indicadores que a Ordem dos Médicos sugere. Estes indicadores têm, de resto, sido tomados sempre em consideração", reage o gabinete de Marta Temido.
Ainda assim, o Ministério da Saúde remete qualquer alteração para a reunião do dia 27 do Infarmed com especialistas. Uma reunião que não ocorria desde 28 de maio. "O combate à pandemia exige reuniões de equipas especializadas em cima do acontecimento, não se pode esperar uma semana para reagir", avisa Henrique Oliveira, sugerindo que se usem indicadores a sete dias. "O que impede um pior cenário é a vacinação", disse.