Tejo, Lima, ribeiras do Algarve e Douro entre as regiões hidrográficas mais afetadas. Arranca hoje semana que alerta para dimensão do problema.
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Todas as regiões hidrográficas do continente já têm dezenas de espécies invasoras que podem colocar em causa as espécies nativas. E, em terra, muitas plantas e animais oriundos de outras paragens provocam desequilíbrios nos ecossistemas e danos na economia e na saúde. Tejo, Lima e ribeiras do Algarve estão entre os cursos de água portugueses mais afetados.
Nas academias, estudam-se os impactos e o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) está a desenvolver planos de ação para controlar um problema, que custa milhões de euros. São alertas que soam no arranque da Semana sobre Espécies Invasoras: Portugal & Espanha, que entre hoje e o dia 11 conta com dezenas de iniciativas nos dois países (ler “Saber Mais”).
As espécies exóticas invasoras estão no top 5 das ameaças à biodiversidade, realça Elizabete Marchante, da Rede Portuguesa de Estudo e Gestão de Espécies Invasoras (InvECO), uma das responsáveis pela organização da semana, explicando que, para além do desequilíbrio dos ecossistemas e risco de extinção das espécies nativas, estas podem provocar danos na “economia e na saúde humana”. A vespa-asiática dizima as abelhas que produzem mel, a vespa-das-galhas-do-castanheiro diminui a produção de castanha, as acácias e as ervas-das-pampas têm pólen alergénico e há espécies que são tóxicas e vetores de pragas e doenças.
Das barragens para os rios
Na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), o investigador Rui Cortes está a desenvolver estudos para avaliar o efeito das espécies exóticas invasoras sobre as nativas e a alteração dos habitats, com enfoque em peixes como a perca-sol e o peixe-gato nas albufeiras das barragens no Tâmega e Sabor.
É importante perceber “como estas espécies se propagam, a partir das albufeiras, para os cursos de água”, avisa o investigador, sublinhando que o peixe-gato atinge grandes dimensões e é um predador dos juvenis das espécies nativas. Ainda no domingo, foi apanhado, no rio Pônsul, em Castelo Branco, um siluro com 102 quilos e 2,33 metros de comprimento.
Mexilhão-zebra preocupa
De acordo com o ICNF, há centenas de espécies invasoras que causam preocupação em Portugal (constam da Lista Nacional de Espécies Exóticas Invasoras e da Lista de Espécies Exóticas Invasoras que suscitam Preocupação da União Europeia) e outras cuja entrada “poderá estar iminente”. O mexilhão-zebra, que já está presente em Espanha, gera preocupação, pois pode “causar danos na ordem dos milhões de euros às infraestruturas hidráulicas ao causar o seu entupimento”.
Em termos de controlo, refere o ICNF, “tem sido dada prioridade a algumas espécies que, pelo seu potencial invasor ou pelo facto de estarem em início de processo de invasão, justificam uma intervenção mais rápida”. Os financiamentos do Fundo Ambiental nos últimos anos incidiram, entre outros, sobre o jacinto-de-água, erva-das-pampas, peixe-gato-europeu, sanguinária do Japão e elódea-africana. Em julho de 2024, por exemplo, o “Fundo Ambiental aprovou 1,49 milhões de euros para financiar 24 projetos de erradicação e controlo”.
“Por ser mais eficaz prevenir” a entrada dessas espécies, “uma política de restrição máxima à introdução na natureza de espécies exóticas é essencial”, avisa o ICNF, apontando que o “comércio global, as alterações climáticas e a dificuldade em prever o comportamento de algumas espécies exóticas – quando transacionadas livremente ou introduzidas na Natureza – obrigam a grande cautela pelas entidades competentes e por todas as pessoas”. Entre os planos de ação que estão a ser desenvolvidos, contam-se o da vespa-asiática, lagostim-vermelho-da-luisiana, siluro, mexilhão-zebra, amêijoa-japonesa e erva-das-pampas.
Iniciativas
Chorão-da-praia
Ao longo da semana das espécies invasoras, vão decorrer várias iniciativas. No dia 10, realiza-se uma ação de remoção do chorão-da-praia, na zona dunar junto ao Castro de S. Paio, em Vila do Conde.
Palestra na Lousã
A Biblioteca Municipal Comendador Montenegro, na Lousã, recebe, no dia 9, a palestra “Invasão da serra da Lousã por acácias: área invadida, efeitos nos ribeiros e controlo”.
Controlo
Uma ação de voluntariado para controlo de espécies invasoras no futuro Parque da Cidade de Esposende está programada para dia 10.