Rodrigo espera há sete meses por cirurgia. Ia ser operado esta quarta-feira, mas o hospital desmarcou na véspera.
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Com mais de meio ano de espera por uma cirurgia a uma luxação da anca, a lesão do pequeno Rodrigo agravou-se, e a criança de oito anos, que sofre ainda de uma síndrome rara, voltou a não conseguir ser operada a partir de um segundo vale de cirurgia, emitido no final de novembro pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), organismo tutelado pelo Ministério da Saúde que gere as inscrições para cirurgias.
O caso de Rodrigo Santos Silva foi noticiado em primeira mão pelo JN no dia 19 de novembro último. Dava conta que o menino de Mafamude, Gaia, aguardava com dores, desde maio, na vasta lista de espera do Hospital de S. João, no Porto - tinha quase 400 utentes à sua frente. Tinha-lhe sido recusada a operação nas cinco unidades indicadas no primeiro vale de cirurgia, que recebeu em finais de outubro. A espera esteve prestes a terminar hoje, dia que o Hospital Particular de Barcelos (HPB) tinha agendado para a intervenção cirúrgica, após ter cativado o novo vale emitido pela ACSS "exatamente com as mesmas unidades que não aceitaram operar" inicialmente. Questionado pelo JN, o HPB não explicou por que declinou a cirurgia com o primeiro vale.
Hospital recua na véspera
Sexta-feira, o hospital informou a mãe de Rodrigo, Vânia Santos Silva, que recuara na decisão de operá-lo, para desespero desta. "Para isto, nem sequer marcavam a cirurgia. Aceitam o processo dele, fazem consultas, dão-me esperanças, marcam a data da cirurgia e, no fim, dizem que não operam porque o hospital não tem cuidados intermédios nem intensivos", indigna-se Vânia, que está endividada por conta de uma cirurgia que o filho fez em 2017 e pondera voltar a operá-lo no setor privado.
"Se não operam o meu filho, vou operá-lo no privado, onde já foi operado quatro vezes. Não podemos estar mais meses à espera. Não vou pôr mais em risco a evolução e a qualidade de vida dele", diz a mãe de Rodrigo, lembrando que foi a ACSS que, por telefone, sugeriu que recorresse em primeiro lugar ao Hospital Particular de Barcelos.
Situação muito grave
"Da primeira vez, esse hospital foi um dos que me disseram que não tinham ortopedia pediátrica. Depois de expor o caso na Comunicação Social, a ACSS recomendou que me dirigisse lá, dizendo que tinha ortopedia pediátrica e uma lista de espera mais pequena". Vânia acatou a sugestão e levou o filho à unidade de Barcelos, que aceitou o segundo vale e cujas avaliações médicas feitas ao menino concluíram que a lesão se tinha agravado.
"Fomos à consulta, e o médico disse que a situação do Rodrigo é muito grave e que devia ter sido logo operado. Só podia ter esperado um mês ou dois, no máximo. Agora, precisa mais do que precisaria em maio, quando era uma cirurgia mais simples. Desde maio, a anca dele rodou, criou tecido e precisa de raspagem, e a perna fez uma rotação interna. O médico disse que a situação dele piorou", conta a mãe do menino.
Questionada pelo JN, a ACSS, que no dia 3 garantiu que a situação estava "resolvida", afirmou que "o utente recebeu o primeiro vale de cirurgia aos 75% do tempo máximo de resposta garantido" e remeteu mais esclarecimentos para o Hospital de S. João. Este disse ao JN que "está em contacto com a família do doente para esclarecimento da situação, estando marcada uma reunião para o efeito".