Informático testou positivo a 25 de setembro e teve de insistir muito junto da médica, que se queixava de não conseguir gerar o código no sistema.
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Quando Vítor Dias testou positivo à covid-19, em setembro, o informático, que já tinha instalada a aplicação StayAway Covid, quis logo introduzir essa informação na app. Mas só 18 dias depois, e a muito custo, é que conseguiu o código. "Se a aplicação alerta as pessoas com quem contactámos nos últimos 14 dias, não serviu de nada".
Este é apenas um dos vários casos que têm vindo a público, nos últimos dias, de dificuldades em aceder ao código, numa altura em que o primeiro-ministro anunciou que quer tornar a aplicação de uso obrigatório, decisão que poderá não ter apoio no Parlamento. Ontem, António Costa admitiu que "houve má compreensão e má explicação" sobre como a aplicação funciona.
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"A minha esposa começou a ter alguns sintomas e como é enfermeira resolveu fazer o teste. Deu positivo e eu e os meus dois filhos tivemos logo ordem para ficarmos confinados", conta Vítor, que vive no Porto.
Três dias depois, a 25 de setembro, também o pai e o filho mais velho testaram positivo. "Fui logo ver no PDF que me enviaram com o resultado do teste onde estava o código e não havia", refere Vítor, que instalou a app mal ficou disponível.
"Sou informático e tive curiosidade. Li tudo e acreditei nesta aplicação, senti que estava bem feita". Mas foi a muito custo que acabou por conseguir o código. "Era contactado pontualmente pelo centro de saúde e fui pedindo insistentemente à médica, que se queixava que não conseguia gerar o código no sistema. Só 18 dias depois é que consegui os códigos dos três".
Obrigado a desinstalar
A aplicação visa alertar outros utilizadores que tenham estado próximos do utilizador infetado. "Mas se a app avisa as pessoas que tiveram contacto connosco nos últimos 14 dias, e se só me deram o código ao fim de 20 dias, não serviu para rigorosamente nada", disse.
A desilusão foi ainda maior quando, ao inserir o código, a aplicação o alertou que, no momento em que "testasse negativo teria que desinstalar e voltar a instalar". Vítor ficou curado esta sexta-feira e desinstalou de vez a app. "Até pode estar muito bem feita, mas não havendo códigos a utilidade é nula".
Ao aperceber-se da intenção do Governo de tornar a aplicação obrigatória, achou a medida "absurda". "Não acredito que vá ser aprovada a obrigatoriedade. Mas para mim, está fora de questão ser obrigatória. Se ela realmente funcionasse, ainda dava de barato", diz, apontando ainda outras falhas: "Se desligar o bluetooth, a aplicação também não adianta de nada".
Para Vítor Dias, os 400 mil euros investidos pelo Governo nesta solução fazem pouco sentido. "Que provem que ela funciona e que não obriguem".
Só 216 códigos introduzidos
De acordo com dados do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC), até ao momento foram gerados 740 códigos pelos médicos e introduzidos apenas 216.
Sensibilizar médicos "É preciso de facto sensibilização e informação de todos os médicos para a necessidade de gerar códigos e de como o fazer. Sei que os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) estão a arrancar com várias iniciativas nesse sentido", disse Rui Oliveira, do INESC TEC.
Uma das razões para que haja tão poucos códigos inseridos prende-se com a dificuldade de os mesmos "chegarem atempadamente às pessoas" infetadas.