Esquerda lembra papel na troika e quer ouvir Maria Luís Albuquerque na AR, direita elogia escolha
BE, PCP, Livre e PAN criticaram esta quarta-feira a escolha de Maria Luís Albuquerque para comissária europeia e pediram uma audição parlamentar da antiga ministra, enquanto PSD, CDS e IL deixaram elogios à escolha do executivo.
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Em reações no Parlamento à escolha do Governo para a candidata a comissária europeia, o deputado do BE Fabian Figueiredo criticou a escolha do executivo, lembrando Maria Luís Albuquerque como "agente da troika no Governo português" e uma das "principais autoras dessa política de destruição social", mostrando-se disponível para ouvir a antiga ministra das Finanças na Assembleia da República.
"Maria Luís Albuquerque é uma representante da política da 'troika' em Portugal, da destruição social, mas também da má gestão dos fundos públicos que beneficiaram o sistema financeiro", acrescentou o deputado, lembrando a comissão de inquérito aos 'swaps' (contratos de gestão da dívida) que, disse, custaram milhões ao erário público por responsabilidade da candidata a comissária.
Paula Santos, líder parlamentar do PCP, juntou-se às críticas ao Governo e sublinhou que Albuquerque foi membro de um executivo de "má memória para os trabalhadores e para o povo português", defendendo que uma eventual audição parlamentar seria uma "boa oportunidade" para questionar a antiga ministra.
O Livre, através do deputado Jorge Pinto, criticou também o papel da candidata a comissária nos tempos como ministra e o Governo por falta de diálogo nesta escolha, anunciando que o partido vai pedir a audição parlamentar de Albuquerque para que possa explicar a sua visão para o projeto europeu.
O PAN, pela deputada Inês de Sousa Real, criticou a escolha e anunciou também que o partido vai propor a audição da antiga ministra no parlamento para que possa explicar "a visão que vai levar para a UE em nome de Portugal".
O partido já entregou um requerimento na AR no sentido de ouvir a antiga ministra na Comissão de Assuntos Europeus, no qual afirma que a falta de diálogo do Governo nesta escolha é "especialmente grave e criticável num contexto em que pouco se sabe sobre o que pensa a Dr.ª Maria Luís Albuquerque sobre a UE e os desafios que se lhe colocam".
Na oposição à direita, a IL foi o único partido a reagir no parlamento e, pela deputada Mariana Leitão, reconheceu as competências da candidata a comissária europeia para o cargo que vai desempenhar.
A deputada deixou um apelo para que sejam promovidas políticas europeias protetoras das liberdades individuais e pediu uma estratégia para Portugal responder à redução dos fundos europeus resultante do alargamento da UE.
Entre os partidos do Governo, o PSD, por António Rodrigues, considerou injustas as críticas da oposição sobre a falta de diálogo, salientando que esta é uma escolha que diz respeito ao Governo e lembrou também as especulações em torno da escolha do Governo que tornavam "já conhecido e sabido que Albuquerque poderia ser a candidata".
"Achamos que a oposição está aqui a elaborar um erro, porque está a tentar partidarizar algo que, normalmente, é consensualizado até na sociedade portuguesa (...) qualquer crítica que se pretende fazer projetando a política nacional para uma dimensão europeia é um erro crasso", afirmou.
Pelo CDS, o deputado Paulo Núncio saudou a escolha do Governo e reconheceu Maria Luís Albuquerque pela experiência política adquirida quando "foi chamada a dirigir os destinos de Portugal num momento particularmente difícil, provavelmente um dos mais difíceis da nossa história e garantiu que os centristas foram ouvidos a propósito desta decisão do Governo.
O presidente do Chega, André Ventura, elogiou o currículo de Maria Luís Albuquerque, proposta pelo Governo para comissária europeia, mas disse preferir que o nome tivesse sido consensualizado entre os partidos à direita. "Acho que a doutora Maria Luís Albuquerque tem de facto um currículo sólido nessa matéria, é preciso dizê-lo. Lamento muito que o Governo não tenha querido consensualizar o nome de Maria Luís Albuquerque, nomeadamente à direita, e mostra uma certa atitude, que continua, de arrogância, de unilateralismo, quando a boa prática é que o Comissário Europeu, porque nos representa a todos, seja um nome consensualizado o mais possível entre os partidos, sobretudo os partidos que formam maiorias", defendeu.
Em conferência de imprensa na sede do partido, em Lisboa, o líder do Chega afirmou que a antiga ministra das Finanças "não tem propriamente experiência do ponto de vista internacional ou do ponto de vista da diplomacia europeia ou da política europeia, mas poderá vir a ganhar essa experiência", e defendeu que os portugueses não vão "ficar mal representados" em Bruxelas. "Se é um nome mais ou menos ligado à 'troika' e aos cortes, como ouvi hoje alguns políticos dizerem, já passou muito tempo sobre isso, as pessoas também na vida podem fazer outras coisas e podem-se revelar noutros cargos", considerou.
O Governo português propôs como candidata a comissária europeia a ex-ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque, anunciou hoje o primeiro-ministro. Maria Luís Albuquerque, 56 anos, foi ministra de Estado e das Finanças durante o período em que Portugal estava sob assistência financeira da 'troika', sucedendo a Vítor Gaspar em julho de 2013 e mantendo-se até final do executivo liderado por Pedro Passos Coelho.