Fabien Cousteau, aquanauta de 56 anos, disse esta terça-feira na Glex Summit, nos Açores, que a estação de pesquisa subaquática da sua autoria, Proteus, deverá ser instalada daqui a dois anos. O neto do conhecido explorador francês Jacques Cousteau afirmou que o oceano está "largamente inexplorado".
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Fabien Cousteau não é novo nestas andanças: faz mergulho ("scuba diving") desde os quatro anos e cresceu influenciado pelo avô Jacques Cousteau, explorador francês e um dos mais conhecidos oceanógrafos mundiais. Hoje, o aquanauta e defensor da conservação dos oceanos referiu que o Proteus, a estação de pesquisa subaquática por si criada, deverá ser instalada em 2026. "Estou a colocar pressão no meu CEO [diretor executivo]", brincou.
Na Glex Summit, cimeira de exploração que está a decorrer na ilha Terceira, nos Açores, Fabien Costeau advertiu que o Mundo debaixo de água está em risco, sobretudo por causa do plástico e do decréscimo de várias populações marinhas. Tal como acontece com o espaço, também os oceanos merecem a mesma ânsia de exploração e pesquisa. "Há muitas similaridades entre o oceano e o espaço", apontou à plateia do Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo.
Depois de em 2020 ter anunciado que o programa Proteus seria o "acelerador tecnológico mais avançado do Mundo" para os oceanos, o também documentarista salientou que estão previstas "várias instalações" de estações subaquáticas no Mundo. A primeira será colocada em Curação, ilha nas Caraíbas. Apesar de não ter revelado tudo, ficou subentendido que poderá haver uma estação perto de Portugal, pelo menos será na Europa. Na altura, várias notícias davam conta que o investimento da iniciativa seria superior a 125 milhões de euros.
Cousteau explicou, nos Açores, que as águas que rodeiam Curação têm demonstrado ter "resistência aos efeitos da humanidade", que são na maioria das vezes, nefastos para quem os ecossistemas marinhos. O oceano, referiu, "nunca teve voz". Fabien Coustean espera que o futuro traga mais "oportunidades" para descobrir o mundo subaquático, ainda "largamente inexplorado".
A exploração aprofundada debaixo de água tem atualmente diversos projetos, como o Aquarius, a estação oceanográfica instalada no arquipélago Florida Keys, nos Estados Unidos, ou a DEEP, uma empresa britânica que quer criar um sistema que permita aos humanos ficar no oceano por longos períodos de tempo, à semelhança do que já se faz no espaço ou mesmo na terra, em grutas.
Estudar abelhas depois de rejeitado pela academia
A organização da Glex Summit destaca o caráter inovador da cimeira mundial que tem trazido a Portugal, há cinco edições, exploradores de todo o Mundo para debater e explicar o trabalho que têm feito. É uma espécie de "networking" [conversas com fins profissionais], que encontra parecenças nas famosas TED Talks. A plateia, além de conhecer as explorações científicas, tem também oportunidade para saber quais as histórias por detrás dos cientistas e dos investigadores.
É o caso de Sammy Ramsey, o entomologista - estuda insetos - que foi expulso de um programa de doutoramento por ser apenas quem era. Depois de passar algumas fotografias da família, facilmente se depreende que a cor da pele e a classe social foram obstáculos que teve de ultrapassar para chegar onde está hoje. E onde é que ele está hoje? A viajar por países a tentar salvar abelhas. Esta é uma das espécies que mais tem padecido com as alterações climáticas e o surgimento de um parasita específico, os "tropilaelaps".
Com a genica e o carisma de uma celebridade de televisão - já esteve em alguns programas nos Estados Unidos -, Ramsey consegue cativar a audiência com uma linguagem simples e acessível a todos. Depois de ter sido rejeitado pela academia, o entomologista contrariou as adversidades e encontrou nas abelhas todo o Mundo para descobrir e salvar.
Perspicaz e ousado, disse à plateia que o seu objetivo não é ser um "David Attenborough branco", em referência ao conhecido naturalista britânico. Mas sim traçar o seu próprio caminho. A plateia concordou com Richard Wiese, presidente do "The Explorers Club", que considerou que o "Mundo precisa do Sammy".
A Glex Summit arrancou no passado sábado, no Porto, e está a decorrer esta terça-feira e quarta-feira, na ilha Terceira, nos Açores. Em Angra do Heroísmo, por estes dias, está uma comitiva de 120 exploradores de todo o Mundo: cerca de 40 pessoas, de 18 nacionalidades, vão ter sessões na Glex Summit. A cimeira é organizada pelo "The Explores Club", associação cententária dos Estados Unidos, e pela empresa portuguesa Expanding World.