Bombeiros voluntários de todo o país manifestaram-se, esta quarta-feira, em frente ao parlamento para exigir melhores condições de trabalho, lembrando que "sem bombeiros não há socorro", mas ainda há quem trabalhe com "as botas rotas".
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"Estamos completamente esquecidos e abandonados pelo Governo", disse à Lusa Fernando Bento, um dos 23 bombeiros voluntários responsáveis pelo movimento que, às 10.30 horas, iniciou uma marcha a pé entre o Ministério da Administração Interna e a Assembleia da República.
Depois do protesto de três dias em setembro em frente ao parlamento, os voluntários voltaram esta quarta-feira à rua para "exigir uma carreira digna".
"Estamos aqui a defender cinco pontos", resumiu Fernando Bento, do grupo "Bombeiros de Portugal - juntos somos mais fortes", enumerando as principais reivindicações: a criação de uma carreira, melhores salários, subsídio de risco e desgaste rápido, reforma aos 60 anos e o financiamento e incentivos ao voluntariado.

Foto: Manuel de Almeida/LUSA
Foto: Manuel de Almeida/LUSA
Foto: Manuel de Almeida/LUSA
Há cerca de 30 mil voluntários no país - muito deles não estão no ativo - e cerca de metade são também profissionais, segundo números avançados à Lusa por Fernando Bento.
As horas que dão à corporação enquanto voluntários não são pagas. Só na época de incêndios, quando se inicia o dispositivo especial de combate aos incêndios rurais, é que recebem "3,12 euros à hora", contou Fernando Bento, que todas as semanas dá 12 horas do seu tempo à sua corporação.
"Pagos" com uma sandes e um sumo
Humberto Batista, autor do grupo "Bombeiros de Portugal", explicou à Lusa que os voluntários têm um caderno reivindicativo igual ao dos bombeiros profissionais e defendeu que sem melhores condições de trabalho será impossível atrair jovens para as corporações.
"A juventude hoje não quer ir para o voluntariado para receber uma sandes e um sumo e este é um dos grandes problemas", disse Humberto Batista.
Resultado: há bombeiros a abandonar a profissão e voluntários a questionar sair, como é o caso de Tiago Rodrigues, que entrou para uma corporação aos 18 anos.
"Temos direito a uma sandes quando fazemos serviço de voluntário durante a noite e um almoço e uma sandes quando fazemos de dia", contou à Lusa Tiago de Rodrigues, de 28 anos, que deixou de ser bombeiros profissional e agora dá 24 horas por mês como voluntário, mas admite que não sabe "durante quanto mais tempo".
"No verão tive de gastar horas minhas para ajudar os meus colegas nos incêndios", recordou o jovem, que diz que se viu "forçado a abandonar a carreira de bombeiros porque o Governo não reconhece o trabalho".
À falta de reconhecimento e de salários, os voluntários dizem que as associações humanitárias vivem com muitas dificuldades: "Não é fácil equipar um bombeiro, porque custa cerca de cinco mil euros", alertou Humberto Batista, dizendo que há bombeiros a trabalhar com "as botas rotas".
A manifestação em frente ao parlamento mereceu a presença de deputados da bancada parlamentar do Chega e do Livre, que prometeram apresentar medidas no Orçamento do Estado para 2026 tendo em conta as reivindicações dos bombeiros.
"É insustentável que estes bombeiros arrisquem a sua vida por três euros por hora", criticou o deputado Jorge Pinto, recordando que a bancada do Livre já apresentou "dezenas de propostas" que foram chumbadas, mas prometendo "voltar a apresentar novas propostas em sede de OE e fora dele".
Também em declarações aos jornalistas, o líder parlamentar do Chega, Pedro Pinto, garantiu que o Chega tem propostas que contemplam as exigências dos manifestantes, como a criação de um subsídio de risco ou de uma escola de bombeiros, sem conseguir precisar o valor dessas medidas, dizendo apenas que "custa muito menos do que o que estamos a dar em RSI" (Rendimento Social de Inserção).
