Até novembro, nasceram em Portugal mais 4376 bebés do que em igual período de 2021. Tudo indica que este ano vai terminar com um provável aumento do número de nascimentos, invertendo a tendência decrescente que vinha a ocorrer desde 2019. Há 15 distritos que já registam mais bebés do que no período homólogo, sendo que quatro deles ultrapassam mesmo o total de nascimentos do ano passado.
Corpo do artigo
Realizaram-se em Portugal 76 692 testes do pezinho, até 30 de novembro, segundo dados fornecidos ao JN pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA). Este procedimento é realizado à nascença para despistar diversas doenças, e, em Portugal, é um dos indicadores mais próximos do número real de nascimentos no país.
Tendo em conta a média de nascimentos no mês de dezembro - entre seis e sete mil -, é esperado que, em 2022, a natalidade suba. Será uma inversão da tendência de queda consecutiva que se verifica desde 2019. É expectável que o número de bebés nascidos este ano ronde os 83 mil.
Sem razões para festejar
Apesar do crescimento, Paulo Machado, presidente da Associação Portuguesa de Demografia, mostra-se reticente em "celebrar". "Do ponto de vista da análise demográfica eram necessários três anos de crescimento significativo consecutivos para se falar numa reversão da tendência." O que não acontece há muito.
A tendência que o demógrafo refere é de decréscimo, que esteve acelerado principalmente entre 2010 e 2014, seguindo-se variações pouco significativas.
Para o futuro, Paulo Machado não faz previsões. "Pequenas oscilações , positivas ou negativas, aconteceram sempre ao longo dos últimos anos, sem podermos traçar uma tendência de crescimento." Segundo o especialista, com o número de nascimentos previsto para 2022, a taxa de fecundidade (número médio de filhos por mulher em idade reprodutiva) deverá rondar os 1,43, mantendo-se estável e "muito longe dos necessários "dois" para se falar em renovação geracional".
Distritos surpresa
Em resumo, Paulo Machado afirma que "estamos dentro de um ciclo de muito baixa natalidade, embora tenhamos sustido o decréscimo acelerado que vivemos de 2010 até 2015, mas do qual não é expectável sairmos a curto ou médio prazo".
Dos 15 distritos que em novembro já têm mais bebés do que no mesmo período do ano passado, quatro (Braga, Bragança, Castelo Branco e Coimbra) superaram mesmo o total de nascimentos de 2021.
Paulo Machado diz que Aveiro e Viana de Castelo apresentam, face ao período homólogo, taxas de crescimentos maiores do que a média, classificando-os como "distritos surpresa", nos quais o especialista não esperava um aumentado tão acentuado.
Em alguns destes distritos, em particular Braga, a imigração é a explicação mais provável, assinala. "Podemos afirmar que não continuamos a diminuir ainda mais os nascimentos do que tem sido o verificado por causa das mães e pais estrangeiros que escolhem Portugal para assentar a sua vida e ter os seus filhos." Quanto às diferenças entre o interior e o litoral, o demógrafo acredita não haverá mudanças. "Mantemos um afunilamento de nascimentos em meia dúzia de distritos", afirma..
Além das causas sociais e económicas que explicam a queda de natalidade, Paulo Machado assinala a atual crise no setor da obstetrícia como potenciador "da manutenção da situação negativa atualmente vivida".