Thayla Motta, que frequentava um curso na Universidade de Aveiro, deixou de contactar amigos. Foi descoberta em Lisboa.
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Na rua, desorientada e com fome. Foi neste estado que uma agente da PSP encontrou Thayla Hendyo Pereira de Motta, a estudante brasileira de 26 anos dada como desaparecida a 15 de dezembro do ano passado em Aveiro. Foi descoberta ontem, na estação de Sete Rios, em Lisboa. Estava a mais de 200 quilómetros da Universidade de Aveiro, onde cursava Línguas, Literaturas e Culturas, o sonho que a levou a cruzar o oceano Atlântico.
A jovem do Guará, Distrito Federal, rumou a Portugal em outubro para estudar. Fonte da Universidade de Aveiro confirmou ao JN que Thayla tinha matrícula ativa e esteve numa residência, mas, entretanto, retirou os seus pertences do local e entregou a chave. Tudo indica que estaria a atravessar dificuldades financeiras. A 22 de novembro, criou uma angariação de fundos na plataforma de crowdfunding GoFundMe. A meta era conseguir 600 euros para “manter os gastos e o curso” que descreveu como o dos seus “sonhos”. O peditório não teve qualquer donativo.
Valdemar Júnior, amigo de Thayla a residir no Brasil, disse à edição brasileira da revista “Marie Claire” que esta enfrentava dificuldades. “Em novembro, ela disse-me que estava a passar muita dificuldade e que queria vir para casa. Não conseguia arranjar emprego como professora de inglês e, por telefone, confessou-me que tinha saído do dormitório e que ia dormir na estrasa”, descreveu. Um colega na universidade, Daniel Januí, referiu que ela parecia “ansiosa e insegura” e que tinha um comportamento “desconexo”.
Ao jornal “Metrópoles”, a irmã Kymberly Amaral contou que o alerta do desaparecimento foi dado por amigos da faculdade, quando ela deixou de frequentar as aulas e de os contactar. “Ficamos muito preocupados.”
“Chorou muito”
Thayla foi encontrada em Lisboa, 40 dias depois. O JN apurou junto da PSP que a estudante foi avistada por um transeunte, que a reconheceu das notícias sobre o desaparecimento, na estação rodoviária de Sete Rios, e chamou as autoridades às 19.35 horas de anteontem. A jovem foi encaminhada para o Hospital de Santa Maria, para ser observada por precaução, uma vez que os bombeiros entenderam que estava desorientada. O JN contactou aquela unidade, mas não obteve resposta em tempo útil.
Uma amiga que acompanhou as buscas em Lisboa contou, à “Marie Claire”, que Thayla “esteve 40 dias na rua e está muito confusa, chorou muito. Não quis ser acompanhada pela polícia, mas a agente foi muito atenciosa e comprou-lhe comida. Ela sente que as pessoas não gostam dela, parece estar envergonhada”.
Dhembla Araújo, outra irmã de Thayla, relatou que a jovem estaria a viver como “andarilha” na capital portuguesa. “Fiz uma breve chamada de vídeo com ela, mas ela não me reconheceu. Tinha um homem junto a ela, mas fugiu”, contou Dhembla. “Suspeitamos que ele a coagiu”, acrescentou Kimberly ao “Correio Braziliense”. Como a estudante terá manifestado vontade de regressar ao Brasil, a família destinou, para esse fim, a “vaquinha” que tinha lançado para ajudar nas buscas.
Angariação de fundos custeia o regresso
Dhembla, uma das irmãs de Thayla, lançou uma angariação de fundos na plataforma Vakinha.com.br para “custear as despesas com a ida de um familiar para Portugal para intensificar as buscas”. Como a estudante foi encontrada, o valor arrecado servirá para levá-la de volta para o Brasil. Ontem, às 19 horas, a meta de 7000 reais (1127 euros) havia sido ultrapassada, estando arrecadados 7427 reais.
Mais de 77 mil estrangeiros
Nas instituições de Ensino Superior público e privado, estudavam 77.471 estudantes estrangeiros no ano letivo de 2023/2024. Desses, quase 37 mil frequentavam licenciaturas, de acordo com a Pordata. Os brasileiros correspondem à maioria dos estrangeiros matriculados nos estabelecimentos.
Número de alunos cresce desde 2009
Desde 2009 que se regista uma tendência crescente no número de alunos estrangeiros a frequentar o Ensino Superior. Houve uma quebra no ano letivo de 2020/21. Em 2014, eram 33.809. em todos os ciclos de estudos do Ensino Superior.