Investigação sugere que exames de imagem podem servir para prever quais os doentes tratados com citostáticos que vão ter dores intensas nos pés e mãos.
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Os tratamentos de quimioterapia provocam lesões dos nervos periféricos, que atingem entre 25% a 68% dos doentes. Nalguns casos, a dor, os formigueiros, a sensação de queimadura e choques elétricos, a sensibilidade nos pés e nas mãos são tão intensos que se tornam incapacitantes e obrigam a suspender a terapêutica. Um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) sugere que é possível prevenir ou mitigar estes efeitos secundários fazendo exames de neuroimagem, como a ressonância magnética funcional, antes de os doentes iniciarem a terapêutica.
Os fármacos citostáticos, muito usados no tratamento do cancro da mama ou do intestino, “impedem a divisão celular e afetam os nervos periféricos, que ficam doentes e passam a bombardear o sistema nervoso central com informação errada”, explica Isaura Tavares, professora da FMUP e investigadora do I3S.
Optar por alternativas
A neurocientista defende que se os doentes fizerem exames de imagem antes de começarem o tratamento, será possível “identificar padrões de ativação do cérebro em resposta à quimioterapia”. Ao perceber quais são esses padrões “seremos capazes de prever os doentes que estão em maior risco de vir a desenvolver neuropatia periférica”, explica.
Ao JN, Isaura Tavares realça que nem todos os tratamentos de cancro implicam quimioterapia com citostáticos pelo que, uma vez feita a avaliação do risco, o médico pode optar por outra terapêutica.
Ao contrário de outros sintomas, como por exemplo os vómitos, não há forma de prevenir ou tratar a dor neuropática .
Sendo certo que “o mais importante é a sobrevivência do doente”, Isaura Tavares nota que “a neuropatia periférica pode obrigar a reduzir a dose ou mesmo a interromper a quimioterapia”. Há doentes para quem a água à temperatura ambiente é dolorosa, outros que “não conseguem suportar o toque dos lençóis da cama nos pés”. Há ainda quem perca funções motoras, ficando em cadeiras de rodas para toda a vida, o que diminui a qualidade de vida e aumenta as despesas em saúde, refere a investigadora.
“Muitas vezes as pessoas sobrevivem ao cancro, mas ficam com estas incapacidades”, realça, defendendo que o futuro deverá passar pela estratificação dos doentes oncológicos com recurso a exames imagiológicos antes de iniciar a quimioterapia, à semelhança do que já se faz, por exemplo, em ortopedia. Publicado na “Brain Sciences”, o estudo faz uma súmula de vários artigos da equipa que já foram publicados noutras revistas científicas.