Investigação constata que mais de um terço dos doentes tinham risco elevado para doença cardiovascular.
Corpo do artigo
As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte em Portugal. E um estudo promovido pela Sociedade Portuguesa de Aterosclerose mostra que 39% da amostra estudada - partindo de dados de mais de 78 mil utentes da Unidade Local de Saúde Matosinhos (ULSM) - tinha um risco elevado ou muito elevado para doença cardiovascular. Quando apenas 7% dos classificados com risco elevado e 3% como muito elevado tinham os níveis de colesterol (LDL) dentro das orientações europeias. Num alerta para a necessidade de monitorização do controlo de lípidos.
"As doenças cardiovasculares ateroscleróticas são preveníveis se evitarmos níveis de colesterol persistentemente elevados", explica ao JN Cristina Gavina, diretora de Cardiologia da ULSM e uma das autoras do estudo publicado no "Clinical Medical Journal", com o apoio da Novartis. Estratificado o risco, os autores perceberam que "as que mais nos preocupavam [elevado e muito elevado] tinham baixíssimos níveis de controlo". Comparando com as orientações europeias de 2019, concluíram que só 7% e 3%, respetivamente, tinham o colesterol nos níveis recomendados, precisa a professora da Faculdade de Medicina do Porto.
Falta monitorização
Sabendo-se que a doença aterosclerótica absorve "10% do orçamento da Saúde e, direta ou indiretamente, 1% do PIB", Cristina Gavina defende uma mudança de paradigma. "Ao contrário da tensão arterial e da diabetes, nos cuidados de saúde primários não há uma monitorização de lípidos", o que considera um "desincentivo a termos as coisas controladas".
Às campanhas de desinformação, dá ainda nota de "não se usarem todas as armas farmacêuticas". De acordo com o estudo, 5% e 10% dos doentes de risco elevado ou muito elevado, respetivamente, estavam a ser medicados com estatinas de alta intensidade. Por outro lado, ao contrário da diabetes, os "medicamentos para o colesterol só são comparticipados a 37%, havendo muito custo pago pelo doente", vinca.
Para Cristina Gavina, "há um longo caminho a percorrer se queremos mudar a saúde em Portugal". Que implica "monitorizar os dados e conhecer os nossos números". O estudo é divulgado hoje pela Sociedade de Aterosclerose, por ocasião do Dia Nacional do Doente Coronário.
À lupa
Estudo LATINO
Designado estudo LATINO, analisou dados de 14 centros de saúde e um hospital central do Norte do país de utentes com idades entre os 40 e os 80 anos com, pelo menos, uma consulta naquelas instituições nos últimos três anos.
Análise de risco
A análise de risco cardiovascular incluiu dados de 78 459 utentes, para o período 2000 a 2019, tendo a caracterização do doente sido feita a 31 de dezembro de 2019.