Portugal e Espanha estão bem posicionados para liderar a transição energética, mas a falta de interligações com os restantes países da União Europeia limita o reforço da segurança energética, bem como a descarbonização da Europa. No entanto, a Península Ibérica surge na linha da frente da mudança para as renováveis.
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O estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos, em parceria com a Brookings Institution, refere ainda que a Península Ibérica respondeu de forma rápida e eficaz à crise nos mercados energéticos com o início da guerra na Ucrânia.
Os autores do relatório “Depois da crise energética: Respostas políticas na Península Ibérica”, publicado esta segunda-feira, consideram que o reforço de interligações transfronteiriças é uma “necessidade urgente” depois do apagão que afetou os dois países em abril deste ano. O incidente interrompeu o fornecimento de eletricidade ao longo de várias horas e afetou os serviços de telecomunicações e setores essenciais.
Segundo os especialistas, as interligações com França e Marrocos foram essenciais para a recuperação do sistema elétrico, notando a necessidade de acelerar e fortalecer estas ligações internacionais para minimizar o impacto de um evento futuro.
O estudo também refere que a existência de uma maior interligação com a UE teria permitido os países ibéricos darem outra contribuição durante a crise energética de 2022 com o início da guerra na Ucrânia, que fez disparar os preços da energia - sobretudo de gás natural e eletricidade.
Resposta eficaz
Na produção e exportação de hidrogénio, as débeis interconexões com a Europa prejudicam igualmente a transição justa do Velho Continente, com os autores a pedirem políticas industriais e sociais que acelerem estes projetos verdes. Os investigadores dão o exemplo do gasoduto submarino 100% dedicado ao hidrogénio verde, o He2Med, entre Barcelona e Marselha, temendo que o calendário de conclusão, previsto para 2030, é incerto e “provavelmente enfrentará atrasos”. O projeto vai exportar hidrogénio verde de Portugal para o centro e norte da Europa.
Ainda assim, os países ibéricos responderam de forma eficaz com medidas pioneiras ao impacto da invasão russa. A implementação da chamada “exceção ibérica”, por exemplo, permitiu limitar o preço do gás para a produção elétrica, minimizando o impacto dos preços finais da eletricidade para os consumidores. Note-se que a dependência de Portugal e Espanha já era baixa, 5% em Portugal e 8% em Espanha, em 2020, aponta o relatório.
O estudo realça que a Península Ibérica apoiou as sanções europeias contra a Rússia, através da aceleração do investimento em renováveis e pela robustez das suas infraestruturas de gás natural liquefeito (GNL). Estas estruturas até permitiram abastecer países como França e Marrocos.
Há ainda a destacar o facto de a transição energética ser fortemente apoiada pelos cidadãos espanhóis e portugueses, que a encaram como uma “oportunidade económica”. “ Esse capital político deve ser aproveitado para acelerar a implementação de projetos e políticas que promovam uma descarbonização inclusiva, tirando partido das vantagens competitivas regionais”, lê-se no estudo.