Um estudo publicado na revista científica "Evolution, Medicine, and Public Health" prova que podem existir várias mutações numa única infeção por SARS-CoV-2. Investigadores do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) e do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) foram os primeiros a quantificar e a caracterizar as variantes que podem ser geradas.
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Os dados obtidos no estudo poderão ser "relevantes para compreender como o vírus evolui na população humana e poderão ter implicações no desenvolvimento de estratégias antivirais", segundo comunicado do IGC.
Para compreender como o vírus evolui e origina novas variantes, os investigadores explicaram que "cada vez que um vírus se multiplica no interior de uma célula infetada, algumas letras do seu código genético podem ser erroneamente substituídas, dando origem a erros (mutações)". Estas mudanças, que alteram características do vírus tais como a sua "transmissibilidade e severidade", dão origem a estirpes "mais bem-sucedidas". Os investigadores chamam a este processo "evolução".
Massimo Amicone, investigador do IGC e coautor do estudo, explica que, "apesar de extremamente relevante, a evolução experimental do vírus constitui um desafio adicional para os investigadores. Isto porque a seleção de variantes bem-sucedidas pode modificar a forma como as mutações se acumulam".
No estudo publicado na revista científica "Evolution, Medicine, and Public Health", a equipa de investigadores utilizou células isoladas de rins de macacos com duas estirpes de SARS-CoV-2, na tentativa de compreender como o vírus origina novas variantes quando é produzido e se reproduz nas células - "uma com a versão original da proteína spike e outra com uma versão mutada que é prevalente a nível mundial". Os investigadores confirmaram que os SARS-CoV-2 "tem uma capacidade notável para se adaptar a novos ambientes, particularmente através da evolução da proteína spike".
Isabel Gordo, investigadora principal do IGC e coautora do estudo, explica que "a cada infeção, a probabilidade de qualquer letra do código genético do SARS-CoV-2 ser erroneamente substituída é de 1,3 em um milhão, menor que no vírus da gripe", e ainda acrescenta que "dado que o código genético do SARS-CoV-2 é composto por aproximadamente 30 000 letras, isto significa que cada vez que o vírus é copiado, 1 em 10 terá uma nova mutação".
Em conclusão, o mesmo estudo demonstra que o vírus tem a possibilidade de aumentar a sua taxa de mutação e sobreviver, trazendo implicações para o desenvolvimento e para o sucesso de antivirais. "Os resultados fornecem informações valiosas no que diz respeito à biologia básica do vírus e a como este consegue moldar o seu código genético para se adaptar a novos ambientes".
A investigação foi apoiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e financiada pelo IGC e pelo INSA.