Autarcas de Paços de Ferreira e Paredes querem mais 15 milhões para ampliação. População desespera.
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Nos últimos meses, as chuvas e o aumento do caudal até disfarçaram o problema. Mas ele continua lá. O investimento superior a cinco milhões de euros realizado na ampliação e reabilitação da estação de tratamento de águas residuais (ETAR) de Arreigada, em Paços de Ferreira, não foi suficiente para acabar com as descargas de saneamento para o rio Ferreira.
O equipamento está longe de funcionar a 100%. Reconhecendo que o investimento feito foi "insuficiente", o presidente da Câmara de Paços de Ferreira, Humberto Brito, avançou, no final do ano passado, que está a ser delineada uma intervenção, em conjunto com o Ministério do Ambiente, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte e a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) para "resolver definitivamente" esta questão, estando a ser reivindicado um montante superior a 15 milhões de euros para nova ampliação.
Mas, questionado, o ministério não confirma se está garantido o financiamento. Informa apenas que "os investimentos realizados permitiram dotar a ETAR de uma capacidade de tratamento eficaz" e que "contudo, tendo em conta os volumes muito desfasados, tem-se verificado difícil manter o nível de tratamento adequado em todos os momentos". "A APA está ciente do impacte ambiental, tendo já, na qualidade de entidade fiscalizadora, um processo de contraordenação face às situações de infração detetadas", acrescenta. Na Assembleia da República, em resposta a deputados da região sobre este "crime ambiental", Duarte Cordeiro afirmou, em novembro de 2022, que o investimento não estava "totalmente fechado", mas que se tratava de "um problema grave da Região Norte" que merecia "solução e prioridade".
Só 10% a 15% em tratamento
Têm sido adotadas algumas medidas na ETAR para minimizar a situação até uma solução definitiva, mas, adianta Nuno Serra, presidente da Junta de Lordelo, em Paredes, a localidade mais afetada pelas descargas, o efluente tratado não chegará aos 30%. "O que lá está foi dinheiro deitado fora. Aquilo e nada é a mesma coisa. Temos um tratamento ainda mais deficiente do que tínhamos antes com saneamento a ir direto para o rio", sentencia.
Nadine Gonçalves, do movimento Mataram o Rio Ferreira, vai mais longe: "A última resposta às denúncias que fizemos ao SEPNA da GNR, em 2022, indicava que a ETAR só estava a tratar 10% ou 15% dos efluentes. É revoltante". "Claro que no inverno não se nota tanto, mas a poluição está lá", salienta a residente em Lordelo. Uma nova obra vai demorar e até lá a situação vai continuar. "Estamos incrédulos. Como é que ficamos numa situação pior do que tínhamos antes?", questiona. Revela ainda que análises feitas à água mostram que a qualidade piorou depois de ampliada a ETAR.
Contactada, a Câmara de Paredes, que espera que o investimento "avance o mais rapidamente possível", reconhece que "o rio Ferreira continua a ser alvo de poluição". "Logo que a Câmara de Paços de Ferreira tenha o projeto de execução da nova ETAR vamos solicitar evidências de especialistas sobre essa nova solução",frisa o autarca Alexandre Almeida. O JN tentou ouvir o Município pacense, mas não obteve resposta.