<p>O vice-director do diário "L'Osservatore Romano", Carlo Di Cicco, defende que Bento XVI é o Papa certo para este tempo de crise. Reconhece que a "a crise internacional que cada vez afecta mais homens e mulheres, famílias, quer em países ricos como em países pobres, não está apenas a causar pânico e a apelar para que todos olhem para a história com um olhar diferente, mas é também uma prova para aferir a profundidade do pontificado de Bento XVI". Entende que "o Papa tem uma visão desta crise" e "não quer ser visto como um oráculo. Ele prefere um retorno à razão, porque, sem esse retorno, é difícil avaliar e apreciar a seriedade da proposta cristã".</p>
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O Papa já tinha defendido perante os párocos de Roma, que recebeu no início da Quaresma, que, neste momento de crise económica, originada pela crise financeira, a Igreja tem a obrigação de fazer uma denúncia "razoável e reflectida" para poder ser crível. Revelou que a sua próxima encíclica, de carácter social, terá em conta as interrogações éticas que a actual crise propõe. Adverte: "vejo como é difícil falar com competência, pois se não se enfrenta com competência a realidade económica, não se pode ser crível". Acrescenta: "deve-se falar com uma grande consciência ética, criada e suscitada por uma consciência forjada pelo Evangelho".
Para o Papa, a Igreja e em particular os seus pastores têm a obrigação de "denunciar esses erros fundamentais, os erros de fundo, que se manifestaram agora com a quebra dos grandes bancos norte-americanos". E põe o dedo na ferida: "no final, trata-se da avareza humana como pecado ou, como diz a Carta aos Colossenses (de S. Paulo), da avareza como idolatria. Nós devemos denunciar essa idolatria que se opõe ao Deus verdadeiro e que falsifica a imagem de Deus através de outro deus, 'Mamon', o deus do dinheiro". Sublinha: "devemos fazê-lo com valentia, mas também sendo concretos. Porque os grandes moralismos não ajudam se não estiverem baseados no conhecimento da realidade, que ajuda também a entender o que se pode fazer concretamente para mudar paulatinamente a situação. E, claro está, para poder fazê-lo, são necessários o conhecimento dessa verdade e a boa vontade de todos".
A encíclica é aguardada com expectativa para fazer vingar a urgência da ética no actual e tão injusto caos económico.
Simpósio dos bispos debaterá situação de crise em Portugal
Os bispos portugueses vão realizar um simpósio, em 15 de Maio próximo, para debater a situação no país. Será uma forma de a Igreja dar o seu contributo para ajudar o país a enfrentar a crise e apontar soluções. "É um simpósio que não é para a Igreja de portas fechadas, mas é para toda a sociedade portuguesa e por isso todos serão bem-vindos, dos vários quadrantes políticos e sociais", afirma o porta-voz dos bispos, padre Manuel Morujão. Poderá talvez já contar com a encíclica social de Bento XVI.