O antecessor de Lacerda Sales no cargo de secretário de Estado da Saúde, Francisco Ramos, afirmou esta quinta-feira que também “teria ajudado” se o filho de um presidente da República lhe pedisse para agilizar o processo das gémeas, pois este “não é uma pessoa qualquer”.
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Em entrevista à TVI, Francisco Ramos defendeu António Lacerda Sales e assegurou que “muito provavelmente teria feito o mesmo”, ou seja, “teria ajudado, teria tentado ser prestável no sentido de garantir o processo dessas pessoas”. Isto porque “o filho do presidente da República não é uma pessoa qualquer”, justificou.
Francisco Ramos foi secretário de Estado da Saúde até 26 de outubro e saiu a poucas semanas da famosa primeira consulta. Avisa agora que, para negar um pedido destes ao filho de um presidente da República, seria preciso “ter um certo estômago e as costas muito blindadas”, e nesses casos “a experiência ajuda”. No caso de Lacerda Sales “era inexperiente e estava lá há 15 dias”, acrescentou.
Refira-se que António Lacerda Sales já negou por duas vezes que tenha sido ele a pedir a marcação da consulta para as gémeas no Hospital de Santa Maria. Os desmentidos aconteceram depois de Ana Paula Martins, diretora demissionária do hospital, ter revelado no Parlamento que a auditoria interna ao caso demonstrou que foi a secretaria de Estado da Saúde a requerer a marcação da primeira consulta.
Sobre o assunto, Francisco Ramos diz que Lacerda Sales pode ter cometido “um erro”: “Caso se confirme que ele ou alguém da secretaria de Estado marcou a consulta, como consta do relatório divulgado pela doutora Ana Paula Martins, não fez bem”. Francisco Ramos critica, contudo, que estejam a “crucificar” e a “esquartejar” Lacerda Sales na praça pública “como se fosse o autor de todos os males deste mundo”.
Francisco Ramos foi ainda questionado sobre o alegado compromisso assinado pelos pais das gémeas de que permaneceriam a residir em Portugal como condição para o avanço do tratamento de quatro milhões de euros, e respondeu que “valeria a pena contactar o atual Conselho de Administração do Hospital de Santa Maria sobre se não haverá a possibilidade de estudar o direito de regresso dos quatro milhões de euros”.
Na prática, a ideia consiste em perceber se a família incumpriu a alegada cláusula de residência obrigatória e, caso ela exista e tenha sido violada, exigir a devolução do custo do tratamento aos pais das bebés.