Abaixo-assinado propõe que as receitas sirvam para custear bolsa de terapeutas e ajudar vítimas em dificuldades financeiras.
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Nelson Araújo, antigo padre da Marinha Grande, lançou uma petição a defender a criação de um fundo de apoio às vítimas de abusos sexuais na Igreja Católica. O ex-pároco propõe que a coleta seja alimentada com receitas provenientes da renúncia quaresmal de todas as dioceses e reforçada anualmente através de um ofertório nacional.
Segundo Nelson Araújo, o objetivo é que esse fundo financie uma bolsa de profissionais, constituída por terapeutas, psicólogos, psiquiatras e juristas, entre outros, disponíveis para apoiar as vítimas e seus familiares. As verbas poderão também ser utilizadas para "compensar financeiramente" pessoas sujeitas a "comprovados abusos sexuais" cometidos por elementos ligados à Igreja.
"Será uma forma de ajudar quem possa estar a passar dificuldades decorrentes da situação dramática que viveu", alega o primeiro subscritor da petição, que sugere que a gestão do fundo fique a cargo de uma comissão independente a constituir pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).
Em declarações ao JN, Nelson Araújo explica que a iniciativa "é uma resposta à não resposta" do episcopado português às conclusões do estudo feito pela Comissão Independente e à "recusa" dos bispos em avançar com medidas "afetivas e concretas" de apoio às vítimas.
"Como católico, sinto-me escandalizado com esta reação da hierarquia da Igreja, contrária à atitude de abertura que parecia demonstrar ao criar a Comissão Independente a ao abrir os arquivos diocesanos para a investigação", afirma o ex-padre, que deixou o sacerdócio em 2013, depois de seis anos de ministério suspenso no âmbito de um "processo de avaliação" entre o próprio e o então bispo de Leiria-Fátima. "Sou a prova de como se pode suspender o exercício do ministério", alega, numa crítica à posição assumida, esta semana, pelo cardeal patriarca de Lisboa.
Dirigida à CEP, à Nunciatura Apostólica em Portugal e aos bispos portugueses, a petição exige à Igreja que "assuma as suas responsabilidades morais" de "reparar o mal" infligido às vítimas, em linha com as orientações do Papa. "A hierarquia católica em Portugal tomou uma direção diferente e, ao arrepio do que tem sido o apelo do Papa Francisco, pretende manter um véu de ocultação sobre os crimes cometidos no passado, mais remoto ou mais recente, refugiando-se em questões jurídicas e em formalismos legais", critica a petição.
No texto, pede-se que a Igreja "não se fique apenas pelas palavras de pedido de desculpas ou por gestos de suposta homenagem" e que adopte medidas "concretas" de apoio a quem sofreu abusos. "As vítimas, do passado, do presente e do futuro, precisam e esperam mais da Igreja Católica. Esperam e precisam de apoio e reparação pelo mal que lhes foi infligido", conclui a petição.