Plano enviado pelo Governo para Bruxelas prevê investimento de 12 milhões de euros na mudança gradual da avaliação externa.
Corpo do artigo
Provas e exames nacionais vão progressivamente passar a ser feitos em formato digital. O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), enviado para Bruxelas, prevê um investimento de 12 milhões de euros para se cumprir a desmaterialização da avaliação externa até ao fim de 2025. No total, está prevista uma dotação de 559 milhões para a inovação pedagógica e o desenvolvimento das competências em tecnologias digitais.
"Adotar processos desmaterializados de elaboração, distribuição, aplicação, realização e classificação das provas de avaliação interna e externa no âmbito da atividade do Instituto de Avaliação Educativa", lê-se no plano. Prevendo-se que o investimento permitirá "ir aumentando de forma gradual o número de provas abrangidas até 2025". Este ano, recorde-se, o primeiro diagnóstico feito a alunos do 3.º, 6.º e 9.º ano para aferir o impacto do ensino à distância já foi feito de forma digital.
O Governo quer reverter as baixas médias de literacia digital ou de especialistas em tecnologias de informação e comunicação (TIC) e usar a "bazuca" de fundos europeus para robustecer as infraestruturas e equipamentos das escolas e generalizar os recursos pedagógicos digitais. A execução vai requerer o "aprofundamento" do currículo das TIC no Básico, assim como a "integração de áreas de competências digitais" nas matrizes do Básico e do Secundário. Interpelado, o Ministério da Educação explicou que a revisão já começou com o alargamento das TIC ao 2.º ciclo, sendo a estratégia da Escola Digital desenvolver competências de forma transversal.
TIC, a área mais deficitária
"Não é possível aprofundar currículo sem atribuir mais tempo e mais professores à disciplina", assegura Manuel Pereira. O problema, frisa o presidente da Associação de Dirigentes Escolares (ANDE), é que essa é a área "mais deficitária nas escolas", em termos de equipamentos e de recursos humanos. TIC é uma disciplina lecionada em um a dois tempos semanais, consoante seja anual ou semestral.
"Olhamos para as metas e promessas do plano com muita esperança, pelas possibilidades fantásticas a curto prazo como, por exemplo, poder abrir cursos na área da multimédia. Mas, sem os recursos humanos adequados, corremos o risco de ter o material desejado e não o conseguir usar devidamente", alerta.
"É o grupo de recrutamento [informática] com maior carência de professores do Norte ao Sul do país", frisa o presidente da Associação de Diretores (ANDAEP). Filinto Lima receia que o agravamento da falta de professores seja a "próxima pandemia" a atingir as escolas. "Sim, é fundamental renovar o material obsoleto e reforçar a rede para a net não estar sempre a cair. Mas também é essencial aplicar a bazuca nos recursos humanos", insiste.
Promessa de costa
A promessa de universalização do acesso à Internet e aos computadores, por todos os alunos e professores, da escolaridade obrigatória, feita há mais de um ano por António Costa, tem um prazo definido no plano: até ao fim de 2021 (quarto trimestre) devem ser distribuídos mais 600 mil equipamentos, a juntar aos 450 mil já entregues).
OUTROS PROJETOS
Wi-fi em todos os espaços
O objetivo é que em todos os espaços escolares haja cobertura wi-fi. O custo desse reforço das redes locais, a que acrescem os equipamentos para a instalação de "access points", está estimado em quase 25 mil euros por escola, num total de 110 milhões de euros. O universo é de 4335 escolas e de mais de um milhão de utilizadores entre alunos, professores e funcionários administrativos. A expansão da conetividade à Internet da Rede Alargada da Educação de 40 para 300 Gbps, que prevê a instalação de troços de fibra ótica, está orçada em cinco milhões de euros.
Um projetor por sala
Um projetor em cada sala de aula das escolas públicas do país é outro objetivo até ao fim de 2023. No plano, lê-se que, aos 30 mil já existentes, irão somar-se mais 40 mil, num investimento estimado em 27 milhões de euros.
Aptidão aeróbica
Até ao final de 2023, o Governo pretende "universalizar o acesso à utilização de recursos digitais para a monitorização da aptidão aeróbica, capacidade corporal e aptidão neuromuscular na disciplina de Educação Física e no desporto escolar", num custo estimado de dois milhões de euros.
Biblioteca digital
A criação de uma biblioteca digital para repositório de "ebooks" também consta do plano, tal como a produção de recursos educativos digitais para cada uma das 330 disciplinas das matrizes curriculares do Básico e Secundário, incluindo ensino profissional e artístico, num investimento total de 80 milhões de euros.