O padre Maximino Barbosa de Sousa foi assassinado a 2 de abril de 1976 por uma bomba de terroristas de extrema-direita do Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP). Terça-feira completam-se 48 anos deste assassinato sem culpados.
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O crime de motivações políticas e as fragilidades da investigação que se sucedeu são dois dos marcos mais negros da história do pós-25 de abril, numa época caótica com centenas de atentados ligados à contrarrevolução que ainda hoje não têm culpados.
Naquela noite, há 48 anos, à porta do Centro Cultural da Cumieira (atual Junta de Freguesia), em Vila Real, o padre Max e a estudante Maria de Lurdes Correia entraram no Simca 1000 amarelo do sacerdote. Lá dentro já estava uma bomba plantada por Manuel Gaspar, conhecido por comandante Paulo, e por Carlos Miranda, “o Favas”, ambos ligados ao MDLP, como confessou o primeiro.
“O embrulho com o engenho, previamente regulado para explodir três horas e meia depois do presumível arranque, foi pousado no chão entre os bancos de trás e os da frente e a porta fechada sem barulho”, confessou o comandante Paulo, ao jornalista Ricardo Saavedra, autor do livro “O Puto – Autópsia dos Ventos da Liberdade”, de 2014.
O engenho explodiu no caminho entre a Cumieira e Vila Real. Maria de Lurdes, de 18 anos, teve morte imediata. O padre Max, de 32 anos, ficou em estado grave, mas morreu pouco depois. A investigação seguiu a tese de crime passional e ignorou os contornos políticos para chegar a lado nenhum, apesar de o padre Max ser o candidato da UDP às primeiras eleições livres para a Assembleia da República, que seriam dali a 23 dias e para as quais já estava em campanha.
Do crime conhecem-se os executantes, mas não os mandantes. Mais tarde, após nova investigação e julgamento, o tribunal deu como provado que o MDLP foi o mandante da explosão, mas ninguém foi identificado e os arguidos foram absolvidos por falta de provas.
Quem integrava o MDLP
Tudo isto ocorreu num período cinzento da democracia, pós PREC e pós 25 de novembro, mas sem paz, sobretudo a Norte, em que os atentados contra figuras ligadas à Esquerda se sucederam com relativa impunidade. No livro “Quando Portugal Ardeu”, o jornalista Miguel Carvalho escreve que “os vários ‘exércitos’ da contrarrevolução, nos quais se incluía o MDLP, foram responsáveis por 566 ações violentas no país entre maio de 1975 e abril de 1977.
Outro caso contado por Miguel Carvalho foi o do industrial Joaquim Ferreira Torres, que o Tribunal de Vila Real confirmou ser o financiador da operação da Cumieira que matou o padre Max. Ferreira Torres morreu assassinado em 1979 quando ameaçou contar o que sabia. Novo crime sem culpados. Ramiro Moreira foi um dos poucos condenados por atentados bombistas do MDLP. Apanhou 21 anos de cadeia, mas fugiu para Espanha e, mais tarde, foi amnistiado por Mário Soares.
O MDLP era liderado pelo general Spínola e por Alpoim Calvão. Várias personalidades que o integraram ainda hoje estão vivas, como é o caso de Diogo Pacheco de Amorim, vice-presidente da Assembleia da República pelo partido Chega, que foi dirigente do movimento. Não existem provas do envolvimento de Diogo Pacheco Amorim em ações concretas, exceto na redação do hino nacionalista “A Ressurreição”, onde se canta: “E já ardem bandeiras vermelhas / Nos campos há gritos de guerra / Nas trevas da noite há centelhas / Das rosas em festa da terra”.