Qualquer jornalista sénior tem memória viva do reboliço causado pelo tradicionalista arcebispo francês D. Marcel Lefebvre, com a sua contestação aberta às orientações teológicas e pastorais do Concílio Vaticano II (1962-1965).
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O arcebispo Marcel Lefebvre, excomungado em 1988 por ordenar quatro bispos sem licença da Santa Sé, afinal assinou todos os documentos do Concílio Vaticano II, que, mais tarde, criticaria asperamente.
A revista italiana "Panorama" publicou a reportagem "No coração secreto do Vaticano", assinada pelo jornalista Ignazio Ingrao, que "desmascara a falsidade histórica dos tradicionalistas", presididos actualmente pelo bispo cismático Bernard Fellay, que, há meses, rejeitou as condições propostas pela Santa Sé para que os tradicionalistas, discípulos de Lefebvre, voltassem à comunhão com a Igreja Católica.
O historiador Piero Doria, que acompanhou Ignazio Ingrao na reportagem sobre o arquivo secreto do Vaticano, confirma que Marcel Lefebvre assinou todos os documentos do Vaticano II. Historiadores e especialistas já conheciam a informação, mas o grande público desconhecia essa incongruência. Os tradicionalistas faziam propaganda de que o seu "mestre" sempre se opôs aos documentos conciliares, embora os textos originais os desmintam.
Recordemos que Marcel Lefebvre (1905-1991) foi excomungado em 1988, depois de ter ordenado quatro bispos à revelia da Santa Sé. Segundo a sua biografia oficial, opôs-se aos ventos de renovação do Vaticano II. Fundou, durante a realização do Concílio, o "Caetus Internationalis Patrum" para defesa da ortodoxia, tal como a entendia e que o Vaticano II, como dizia, estaria a pôr em questão com uma alegada "nova teologia". Não admira que tenha classificado de "destrutivas" as reformas conciliares e pós-conciliares.
Em 1968, fundaria, na Suiça, a "Fraternidade S. Pio X" e, um ano depois, o seminário internacional de Econe, também na Suiça.
Em 1976, foi suspenso "a divinis" por ter presidido a ordenações sacerdotais irregulares. Apesar das admoestações dos papas Paulo VI e João Paulo II, continuaria a presidir a ordenações, inclusive de quatro bispos. Em 30 de Junho de 1988, ordenou esses bispos e a Congregação para os Bispos publicou o decreto oficial da sua excomunhão e dos quatro bispos. Foi a ruptura máxima com a Santa Sé.