Enquanto espera por novo edifício, Braga pagou cerca de 14 milhões de euros para fazer 20 mil cirurgias no privado e em misericórdias.
Corpo do artigo
Estrangulados por longas listas de espera e por falta de instalações, há hospitais do SNS a abrir concursos para usar os blocos operatórios de unidades privadas ou de misericórdias. O Hospital de Braga foi o primeiro a arrancar com o modelo de forma organizada e, nos últimos dois anos, fez mais de 19 200 cirurgias fora de portas com os médicos da casa. O "remedeio", enquanto o Governo não aprova o projeto do novo edifício de cirurgia de ambulatório, custou 13,7 milhões de euros.
https://d23t0mtz3kds72.cloudfront.net/2023/05/14abr2023_gabriell_entrevista_hospital_braga_20230501194955/mp4/14abr2023_gabriell_entrevista_hospital_braga_20230501194955.mp4
Além das instalações, o montante inclui despesas com enfermagem, anestesistas, equipamentos, dispositivos médicos, medicamentos, assistentes operacionais e hotelaria, esclarece o hospital. Em 2% das operações do ano passado, incluiu também cirurgiões plásticos de fora por falta de recursos da casa.
Em 2022, o Hospital de Gaia recorreu a esta modalidade pela primeira vez para "estender a capacidade instalada" e realizar artroplastias totais da anca e do joelho. A opção, que permitiu operar 182 doentes e "melhorar os tempos de resposta à lista de ortopedia", custou 439 mil euros. Além da utilização dos espaços, o valor inclui enfermagem, próteses e a componente hoteleira, refere o centro hospitalar, em resposta ao JN. Ao que foi possível apurar, o Hospital de S. João (Porto) já usou este modelo no passado e há outros hospitais a equacionar a solução.
Apesar de o edifício do Hospital de Braga ter apenas 12 anos, as 13 salas operatórias, duas só para a urgência, não chegam para as necessidades, explica João Porfírio Oliveira, presidente do Conselho de Administração. O projeto de construção do edifício de cirurgia de ambulatório adjacente ao hospital, aguardado há vários anos, permitirá expandir a atividade e criar salas exclusivas para a cirurgia cardíaca e a cirurgia vascular. Segundo João Oliveira, este projeto faz agora parte do plano de negócios da Unidade Local de Saúde de Braga, que deverá avançar este ano.
Adesão de 80% dos doentes
Nos últimos dois anos, os médicos cirurgiões de Braga deslocaram-se aos hospitais do grupo Trofa e das misericórdias de Felgueiras, Póvoa de Lanhoso, Vila Verde e Riba d"Ave para operar os doentes em lista de espera. Ao contrário dos vales-cirurgia - que a maioria dos doentes rejeita -, nesta modalidade a adesão é grande. "Cerca de 80% dos doentes aceitam ser operados fora", refere, aludindo à confiança entre o doente e o médico que opera.
Desde que deixou de ser uma parceria público-privada (PPP), de 2019 para 2022, o Hospital de Braga aumentou em 41% a atividade cirúrgica. Mas, apesar da produção dentro e fora de portas, a PPP deixou uma lista de espera "pesada".
Em 2019, havia 19 mil doentes a aguardar cirurgia e , agora são cerca de 12 mil. Nas consultas são 40 mil. É a maior lista de espera para cirurgia e consultas da região, segundo dados da ARS Norte. "Por muita atividade que façamos, a referenciação para Braga continua a ser muito grande. Somos um hospital com uma produção superior à maioria dos grandes hospitais do país", assinala João Oliveira.