"Falta de coragem" e "novela mexicana": as reações à polémica do novo aeroporto
O presidente do PSD, Rui Rio, e Nuno Melo, do CDS, acusaram esta quinta-feira o primeiro-ministro, António Costa, de "falta de coragem" para demitir o ministro das Infraestruturas.
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"Eu julgo que há aqui, da parte do primeiro-ministro, António Costa, uma notória falta de coragem para demitir um ministro, e isto naturalmente fica numa situação profundamente caricata", defendeu Rui Rio, em declarações aos jornalistas na Assembleia da República.
O ainda líder do PSD salientou que o executivo "tem liberdade de agir como bem entende", mas "há uma questão que passa para outro patamar": "o senhor Presidente da República vai falar hoje e eu estou curioso para saber o que é que vai dizer".
"É verdade que, por um lado, ele foi um bocado ultrapassado pelo próprio ministro, e isso é desagradável, mas por outro lado, eu sentir-me-ia incomodado em ter um governo que está em funções há tão pouco tempo, um governo que tem maioria absoluta e, depois de tão pouco tempo, estar já neste estado, principalmente entre dois elementos, primeiro-ministro e ministro, que já vinham de trás, que já se conhecem, que já sabem como cada um deles funciona", destacou.
Costa "perdeu autoridade para continuar em funções"
Nuno Melo, líder do CDS-PP, também já reagiu à revogação do despacho de Pedro Nuno Santos, lamentando que o ministro das Infraestruturas tenha avançado com a solução de dois aeroportos para substituir o Humberto Delgado, em Lisboa, "por recriação própria e sem conhecimentos técnicos". Além disso, acrescenta que o chefe de Governo revogou "sem autoridade" a proposta, destruindo "a sua credibilidade e a do ministro perante um país inteiro".
"Um despacho com força jurídica, publicado no Diário da República, não é um erro de comunicação. Mantendo o ministro, o primeiro-ministro desautorizado revelou todo o medo que tem da força de Pedro Nuno Santos junto do aparelho do PS. O partido prevaleceu sobre o país. O que hoje aconteceu não é possível num regime democrático digno desse nome", notou. "O primeiro-ministro perdeu hoje toda a sua autoridade para continuar a exercer funções", disse ainda.
"Novela mexicana" e Governo "mais frágil"
Chega e IL consideraram esta quinta-feira que o Governo saiu fragilizado do episódio do despacho sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa, enquanto o PCP insistiu que Alcochete é a única hipótese viável para substituir a Portela.
O presidente do Chega, André Ventura, considerou que o ministro das Infraestruturas "já não existe politicamente, está desautorizado a todos os níveis pelo próprio primeiro-ministro".
Ventura pediu a intervenção do Presidente da República, considerando que Marcelo Rebelo de Sousa deve "apontar o caminho da saída a Pedro Nuno Santos".
O presidente do Iniciativa Liberal, João Cotrim Figueiredo, considerou que o país está perante "uma novela mexicana", uma vez que houve "um ministro que foi desautorizado de uma forma humilhante" e "um primeiro-ministro que reconheceu um erro grave", mas não demitiu o governante que errou.
Na ótica do deputado liberal, o executivo socialista está "hoje mais frágil" e João Cotrim Figueiredo levantou dúvidas sobre as declarações de António Costa e Pedro Nuno Santos: "Não sabemos a história toda".
Pelo PCP, a líder da bancada, Paula Santos, acusou o PS, de "em articulação com o PSD, servir os interesses da Vinci e negar ao país o direito a ter uma infraestrutura aeroportuária que permite o desenvolvimento" nacional.
A deputada comunista disse que denota "uma grande contradição no Governo" e também "dificuldades em justificar ao país" a opção do Montijo, argumentando que a opção do Campo de Tiro de Alcochete "está consensualizada" como a mais indicada para substituir o Aeroporto Humberto Delgado (Portela).