Falta de fundos e pouca comunicação dificultam combate a incêndios, diz perito
Michael Czaja, especialista norte-americano em fogos florestais, alertou esta terça-feira, em Lisboa, que os dois problemas principais sobre o tema em Portugal são a suborçamentação e a falta de articulação entre entidades. As conclusões do perito, professor da Universidade Estatal do Colorado, resultam de 35 entrevistas a responsáveis de várias áreas (bombeiros, GNR, autarquias e outras) que o próprio realizou no último mês.
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"Os fundos foram identificados como uma questão-chave" pela maioria dos entrevistados, afirmou Michael Czaja, na sede da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), onde esteve presente a convite da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF).
De acordo com o especialista, a falta de meios financeiros para o combate aos fogos florestais é por eles vista como um "impedimento" para que algumas estratégias adotadas após os fogos de 2017 possam ser implementadas na prática. Estes incêndios, recorde-se, mataram 66 pessoas.
Ainda assim, e apesar de "alguma incerteza", Czaja afirmou que as entidades responsáveis pela prevenção dos incêndios "aprenderam e adaptaram-se desde os acontecimentos de 2017". Alguns dos progressos apontados são o Plano Nacional de Gestão Integrada de Fogos Rurais ou o decreto-lei n.º 82/2021, que criou o Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais.
Entidades devem articular-se "como um puzzle"
Nas entrevistas realizadas pelo perito entre março e abril, de Norte a Sul do país, também foi sublinhada a necessidade de uma maior coordenação entre as entidades, nomeadamente a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), a AGIF, o Instituto da Conservação da Natureza de das Florestas (ICNF), a Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) ou as autarquias.
"Tem de haver uma oportunidade para construir pontes de modo a trabalhar em conjunto", afirmou Czaja, salientando que os diversos atores no terreno têm "um interesse comum". Desse modo, todos eles devem articular-se da melhor forma possível e trazer "diferentes perspetivas para o debate, de modo a que estas encaixem como um puzzle", frisou.
As entrevistas realizadas por Czaja são a base para a realização de um relatório acerca da evolução da prevenção dos fogos florestais em Portugal desde 2017, e que o académico está a finalizar.