Ordem estima ser necessário contratar 700 profissionais para centros de saúde e duplicar recursos nos hospitais.
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Há falta de nutricionistas no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e há médicos de família a não encaminharem doentes para consultas de nutrição devido à escassez de profissionais. Nos centros de saúde, onde estão alocados pouco mais de uma centena de nutricionistas, são necessários mais cerca de 700 para dar resposta às necessidades dos utentes. Trata-se de sete vezes mais profissionais do que os existentes. Também nos hospitais, há um défice de nutricionistas.
As contas foram feitas pela Ordem dos Nutricionistas e constam num estudo sobre a integração dos profissionais no SNS, cujos resultados serão apresentados hoje, no âmbito do Dia Mundial da Saúde.
"Há uma clara falta de nutricionistas para responder àquilo que são as necessidades da nossa população. Em termos numéricos, o défice nos cuidados de saúde primários é mais gritante. Ainda assim, o défice nos hospitais também é acentuado", referiu Alexandra Bento, bastonária da Ordem dos Nutricionistas, notando que o aumento de profissionais no setor público tem sido "muito lento".
"Há filas de espera para aceder às consultas de nutrição. Muitas vezes, os próprios médicos de família já nem encaminham para a consulta porque sabem que é uma manifesta impossibilidade", disse a bastonária.
Nos hospitais e centros hospitalares inquiridos no âmbito do estudo, a Ordem dos Nutricionistas estima que seja necessário "o reforço de 39 a 141 profissionais", ou seja, "duas vezes mais nutricionistas face aos existentes". Nesses hospitais trabalham 176 nutricionistas, apenas mais nove do que em 2020. Há, atualmente, um nutricionista por 89 camas, sendo que o rácio proposto pela Ordem é de 50 camas para cada profissional.
Mais vagas em concurso
Já nos centros de saúde, o estudo indica a existência de 113 nutricionistas. Trata-se de um aumento de 11 face a 2020. Atualmente, há um nutricionista para cerca de 100 mil utentes, sendo defendido 12 mil utentes por cada profissional.
No início de uma nova legislatura, marcada pela chegada de verbas do Plano de Recuperação e Resiliência, Alexandra Bento aponta como uma das prioridades o alargamento do número de vagas do concurso público lançado em 2018.
"Temos um concurso em terreno para 40 vagas. É possível legalmente aproveitar este mesmo concurso para alargar o número de vagas. Porque não termos o arrojo de dizer que passaríamos de 40 a 400? Não é uma ideia vã, é uma necessidade urgente face ao cenário epidemiológico do nosso país", afirmou Alexandra Bento, recordando que Portugal "é um país com excesso de peso" e com "hábitos alimentares não adequados".
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40 nutricionistas vão entrar para os centros de saúde ao abrigo do concurso público lançado em 2018. Segundo a Ordem, o procedimento está na reta final.