Futebol, feriados e proximidade da época estival pode justificar parte das faltas. "Task force" admite mudar locais de inoculação.
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Seis meses após o início da campanha de imunização contra a covid-19 no país, contando-se quase oito milhões de vacinas administradas, alguns centros de vacinação estão a verificar um aumento no número de pessoas que faltam à inoculação. Mesmo depois de se terem autoagendado e confirmado por SMS a marcação. Autarcas ouvidos pelo JN lamentam a situação e revelam que estas ausências estão a aumentar.
"No dia do jogo de Portugal [com a Alemanha] verificaram-se dois fenómenos: pessoas que vieram a partir das 14 horas, antecipando autonomamente a chegada [a partida começou às 17 horas], e, mesmo assim houve mais de 100 pessoas que faltaram" à inoculação, revelou o presidente da Câmara de Gondomar, Marco Martins.
De acordo com o autarca, as faltas à vacinação "são um número que tem vindo a crescer" diariamente. Na terça-feira, dia 23, não compareceram 140 utentes que tinham confirmado a marcação. "É vergonhoso e repugnante", lamentou Marco Martins, acrescentando que, quando se aproxima da hora do encerramento do centro, "os profissionais de saúde começam a fazer contactos para tentar arranjar utentes e não haver desperdício" de vacinas.
Apelo ao cumprimento
Carlos Carreiras, presidente da Câmara de Cascais, sem adiantar números concretos, também confirmou as faltas de comparência. "Constatámos que nos fins de semana de ponte houve uma descolagem significativa entre o número de agendamentos e o número de presenças para vacinação", adiantou. Os motivos podem ser vários - de ordem profissional, familiar, por mudança de opinião ou até mesmo por lazer - de acordo com Nuno Jacinto, presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar.
"Pode ter havido algum impedimento de última hora. Eventualmente, em alguns casos, pode haver também mudança de opinião. Mas é um fenómeno curioso. Não é fácil ter uma razão para toda a gente", disse.
Em resposta ao JN, a "task force" para a vacinação não respondeu se tem um "plano B" para a toma das segundas doses, caso calhe em época de férias, apelando a que a população cumpra o esquema vacinal proposto. Porém, ouvido quarta-feira na Assembleia da República, o coordenador da "task force", Henrique Gouveia e Melo, admitiu que as férias vão "ter um impacto nos processos de agendamento das vacinas".
"O que estamos a tentar fazer para evitar isso é [utilizar] a metodologia casa aberta, em que dentro da faixa etária, as pessoas podem ir aos centros de vacinação [sem marcação]. Primeiro na sua área de residência e depois, eventualmente, até fora da área de residência" revelou o vice-almirante na Comissão Parlamentar da Saúde, acrescentando que as pessoas ou se vacinam "antes das férias ou depois". "Eventualmente um grupo muito restrito poder-se-á vacinar num outro local", disse.
Avisar na 1.ª dose
Nuno Jacinto explicou, por seu lado, que a realidade é diferente em vários sítios do país. Segundo o médico, por se tratar de um sistema proativo, em que os utentes têm de procurar um local e uma data com vaga no sistema e depois confirmar a marcação, "é estranho" que o número de ausências seja elevado.
"Não é fácil ter uma razão para toda a gente", disse. O clínico sublinhou, no entanto, que no caso das segundas tomas, pode ser possível alterar a marcação. "Se, quando fazem a primeira dose, as pessoas avisarem dessa impossibilidade, existe a capacidade de alterar a data da segunda. É só uma questão de informar as equipas que estão nos centros de vacinação". Quanto à primeira dose, deve contactar o centro de saúde e pedir a alteração.
À lupa
Internamentos a subir
Desde 12 de abril que não estavam tantas pessoas internadas por causa da covid-19. Segundo o boletim da Direção-Geral da Saúde, no domingo estavam internadas 477 pessoas, mais 30 do que na véspera. A 12 de abril, eram 479 os internamentos. Em unidades de cuidados intensivos estavam 116 pessoas, mais três do que sábado.
O pior desde fevereiro
Domingo foi o pior domingo desde 14 de fevereiro em termos de novos casos, quando se registaram 1677 infetados. O boletim da DGS indicava mais 1496 pessoas com covid-19. Desde 21 de fevereiro (1186 novas infeções), que não havia um domingo com mais de mil novos casos.
Quatro vacinas aceites
Os emigrantes, em particular os residentes no Brasil, temem que o certificado digital não lhes permita viajar livremente pela Europa, porque a vacina chinesa, a Coronavac, não foi aprovada pela Agência Europeia de Medicamentos. Assim, o passaporte apenas contempla quatro vacinas: Pfizer/BioNTech, Moderna, AstraZeneca e Janssen.
Vacinação completa
No domingo, o Ministério da Saúde esclareceu que o certificado digital só é válido para entrar ou sair da Área Metropolitana de Lisboa para quem tiver a vacinação completa.