Familiares foram pedir ajuda a pé; VMER de Matosinhos esteve incontactável. INEM garante que atendeu tudo e rápido
As falhas de comunicação durante o apagão de segunda-feira dificultaram o funcionamento do INEM, embora o instituto garanta que atendeu todas as chamadas e com tempo médio de 40 segundos. Em Lisboa, familiares de um doente foram a pé pedir ajuda a uma base e, em Matosinhos, a viatura médica não saiu para atropelamento.
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Embora o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) tenha funcionado com recurso a geradores, houve dificuldades no funcionamento do INEM, durante o dia de ontem, ao nível da receção das chamadas e no contacto do CODU com os meios no terreno, relata o presidente do Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (STEPH).
Rui Lázaro contou ao JN que, com o colapso da rede Vodafone, o INEM deixou de conseguir acionar os meios por telemóvel. A agravar a situação, a rede SIRESP teve falhas e "as consolas" deste sistema que estão no CODU não funcionaram, adiantou.
Em consequência, houve ocorrências que tiveram uma assistência menos diferenciada e pessoas a pedir ajuda diretamente. Em Matosinhos, contou Rui Lázaro, os bombeiros foram acionados pelas 15.30 horas para um atropelamento de uma mãe e uma criança. A ambulância dos bombeiros saiu para prestar socorro e recebeu informação de que seria apoiada pela Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) do Hospital Pedro Hispano. "Pouco depois veio a informação de que o CODU não conseguia contactar a VMER", reportou Rui Lázaro, acrescentando que foi acionada outra ambulância através da Proteção Civil.
Em resposta a um pedido de esclarecimentos do JN, o INEM admite que houve "uma dificuldade inicial para acionamento da VMER de Matosinhos, mas logo após a passagem de dados verificou-se que a situação clínica das vítimas não exigia a intervenção de um meio de Suporte Avançado de Vida".
O Instituto especificou que o CODU recebeu uma chamada para um atropelamento de uma criança de três anos em Custóias tendo mobilizado dois minutos depois uma ambulância dos bombeiros de Leça do Balio. Já no local, a equipa informou que necessitava de apoio para socorrer uma vítima de 30 anos, também vítima de atropelamento e a condutora do veículo envolvido.
Mas depois de assistir a criança, refere o INEM, a equipa informou o CODU sobre os dados observados, verificando-se que se tratava de uma situação de menor gravidade, tendo a criança sido transportada ao Hospital Pedro Hispano, acompanhada pelo pai.
A outra vítima do atropelamento, uma senhora de 30 anos, sem sinais de gravidade, foi transportada para o Hospital de São João, explica o INEM, acrescentando que o último utente assistido no local acabou por recusar transporte à unidade de saúde.
Máquina de oxigénio falhou e foram pedir ajuda a pé
Em Lisboa, impossibilitados de contactar o INEM, os familiares de um doente respiratório dirigiram-se a uma base do INEM na Rua Infante D. Pedro para pedir ajuda. A vítima estava em casa e a máquina de oxigénio deixou de funcionar devido ao corte de eletricidade. "A ambulância foi a casa do senhor sem o CODU saber porque não era possível contactar", conta Rui Lázaro, realçando a resiliência dos profissionais que operaram os meios e estiveram nas centrais do INEM "a fazer o serviço rolar minimamente".
Durante o dia, os CODU foram acionando os meios dos parceiros do Sistema Integrado de Emergência Médica (bombeiros e Cruz Vermelha) através dos comandos sub-regionais da Proteção Civil, informou o presidente do STEPH.
Com todas as dificuldades, geraram-se atrasos na resposta de emergência e terão sido perdidas centenas de chamadas. Rui Lázaro estima em cerca de 400 chamadas perdidas, incluindo as que chegam via 112 e as internas, de comunicação dos meios com o CODU. Admitindo algumas falhas pontuais, o INEM garante que foram atendidas todas as chamadas e devolvidas as perdidas.
Atendidas mais de 4500 chamadas e acionados 3900 meios
Em comunicado às redações, o INEM explica que ativou o seu plano de contingência e manteve os seus sistemas, telefónico e informático, a funcionar com recurso a geradores "imediatamente acionados de forma automática" e garante que todas as chamadas que chegaram via 112 foram atendidas. O tempo médio de atendimento situou-se nos 40 segundos, adiantou o instituto.
O INEM detalha que os CODU registaram ontem um total de 4.576 chamadas recebidas e que foram acionados 3.877 meios de emergência, "números em linha com os valores registados habitualmente às segundas-feiras, historicamente o dia da semana com maior atividade de emergência médica".
"Pelas 11h40, a Sala de Situação Nacional do INEM iniciou o acompanhamento de toda a situação para fortalecer o trabalho dos CODU, tendo procedido também, no imediato, ao reforço das equipas, designadamente dos profissionais escalados nos CODU, conforme previsto em situações excecionais", refere o comunicado.
O instituto assegura também que "as aplicações próprias do INEM, de atendimento telefónico, triagem e processamento das chamadas, mantiveram-se sempre operacionais, não se tendo registado qualquer interrupção no seu funcionamento e consequente atendimento e triagem telefónica das chamadas recebidas" .
Relativamente aos edifícios onde estão instalados os CODU do INEM, a autonomia energética "esteve sempre garantida através dos geradores próprios existentes".
O comunicado adianta que "foram imediatamente planeadas várias medidas para operacionalização dos CODU junto dos Centro Operacionais 112 (COSUL e CONOR), caso se verificassem dificuldades na passagem de chamadas via 112, não tendo sido necessário ativar este recurso". Foi também criada uma rede de acionamento de meios através dos Comandos Sub-regionais da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, através de canais dedicados de rádio SIRESP.
Maior pressão no sistema entre as 13 e as 15 horas
O INEM admite que "entre as 13 horas e as 15 horas verificou-se um período de maior pressão no sistema devido a falhas registadas nas redes móveis de comunicações em todo o país".
"O pico de chamadas em espera e desligadas na origem registou-se cerca das 14 horas, com um total de 100 chamadas, tendo os sistemas de callback e de atendimento automático dos CODU recuperado 100% destas chamadas", acrescenta.
E reconhece que "em consequência das falhas registadas nas infraestruturas de comunicação nacionais, verificaram-se igualmente constrangimentos pontuais no acionamento de meios de emergência".
Durante a tarde foram progressivamente restabelecidas as comunicações telefónicas, o acesso à internet e à rede SIRESP, verificando-se a normalização do serviço ao nível nacional pelas 23.20 horas, realça o instituto.
No comunicado, o conselho diretivo do INEM enaltece "a prestação dos trabalhadores do INEM, parceiros do Sistema Integrado de Emergência Médica e demais entidades que ontem colaboraram com o Instituto no sentido de garantir, num contexto absolutamente inédito e inesperado, a melhor resposta a todos os pedidos que foram sendo recebidos por parte dos cidadãos e das equipas de emergência médica no terreno".