Colaboração visa agilizar imunização da gripe. Estarão disponíveis 700 mil vacinas para venda ao público. Há estabelecimentos com mais de cem reservas.
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As farmácias vão voltar a administrar gratuitamente vacinas da gripe a pessoas com mais de 65 anos, colaborando com os centros de saúde no esforço de imunização. Vão receber 200 mil doses do contingente do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e comercializar outras 700 mil. Ainda não se sabe quando chegam as vacinas, mas a procura já começou e há quem tenha mais de uma centena de reservas em carteira (ler caixa).
No total, as farmácias vão ter 700 mil doses para venda ao público, com comparticipação estatal (mais 200 mil do que no ano anterior), e outras 200 mil do contingente do SNS, segundo apurou o JN junto da Associação Nacional de Farmácias (ANF). Entre público e privado, o país contará com mais 400 mil vacinas da gripe. O contingente conseguido pelas farmácias junto dos fornecedores deixa o setor mais tranquilo. A agitação não é tão grande como no ano passado, mas já há muitas reservas no Porto e em Lisboa (ler ao lado).
Câmaras envolvidas
Houve 920 mortes por gripe em 2019/2020 e nenhuma na última época gripal, de acordo com o Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge
A colaboração das farmácias com o SNS na vacinação da gripe começou no ano passado e contou com o apoio das autarquias e da associação Dignitude, que assumiram os encargos com a administração das vacinas (2,5 euros por dose), nomeadamente consumíveis e equipamento de proteção individual. Este ano, as câmaras vão voltar a ser envolvidas e espera-se a participação de mais associações.
O programa não correu sempre bem, especialmente no início, quando a escassez de vacinas limitou a resposta aos utentes. Em vários municípios, a procura foi tanta, que o limite de doses custeado pelas câmaras rapidamente se esgotou. O então coordenador da task force da vacinação covid-19, Francisco Ramos, chegou a acusar a ANF, que representa mais de 95% das farmácias, de ter sido um "empecilho" no processo.
Ainda assim, a "receita" repete-se e as farmácias são de novo chamadas a ajudar o SNS. A adesão e a satisfação dos utentes, que evitaram deslocações aos centros de saúde, terá contribuído para a decisão.
Risco de doença grave
O Serviço Nacional de Saúde adquiriu 2,24 milhões de vacinas da gripe, mais 200 mil do que no ano passado. Daquelas, 200 mil serão administradas nas farmácias
No ano passado, a época gripal foi atípica em Portugal e no resto da Europa, onde se registou uma diminuição de 99% de casos em relação ao ano anterior. Por causa das medidas de proteção contra a covid, nomeadamente o uso de máscara, o distanciamento social e a higienização das mãos, o vírus influenza praticamente não circulou. Em Portugal, registaram-se zero mortes por gripe face a 920 em 2019, ano que já tinha sido especialmente brando.
A constatação deixa médicos, como Filipe Froes e Carlos Robalo Cordeiro, e especialistas em virologia, como Pedro Simas, em alerta. Porque a interrupção do ciclo natural dos vírus pode aumentar o risco de doença grave no próximo inverno.
Por outro lado, teme-se que a concordância das vacinas com as estirpes do vírus dominante na próxima época gripal seja menor. Isto porque as vacinas são feitas com base nas estirpes que estiveram em circulação na época anterior. Para minimizar este risco, e à semelhança de anos anteriores, as vacinas adquiridas por Portugal são tetravalentes, ou seja, abrangem quatro tipos de vírus da gripe (dois do tipo A e dois do tipo B).
Muitas reservas mas sem corrida
Ainda não há data para o início da venda e administração das vacinas da gripe - depende das entregas -, mas no Porto e em Lisboa já há farmácias com mais de 100 pessoas nas listas de reservas. António Oliveira, da Farmácia Vitália, diz que tem cerca de 120 reservas. Acredita que este ano a procura será maior, "porque no ano passado houve muita falha de vacinas".
A Farmácia Garantia também aceita reservas e a lista conta com cerca de 100 pessoas. Mas Ana Castro, técnica de farmácia, diz que são menos do que havia por esta altura no ano passado. Vasco Teixeira, da Farmácia dos Clérigos, corrobora, considerando que ainda não há uma "corrida às vacinas, como se verificou no ano passado". Em Lisboa, na Farmácia de Sete Rios, as reservas começaram em julho, mais cedo do que em 2020. Ainda assim, as pessoas estão mais tranquilas: não há a agitação do ano passado.