Estão mais próximas do cidadão e pretendem ser a "porta de entrada" no sistema de saúde. Ministério mostrou abertura para avaliar, garante ANF.
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As farmácias querem alargar o leque de serviços que prestam aos cidadãos, fazendo, por exemplo, testes rápidos para despistar se as infeções de garganta ou urinárias são víricas ou bacterianas. Querem, sobretudo, assumir-se como a "porta de entrada" no sistema de saúde", em complementaridade com a linha SNS24, referenciando os doentes para os diferentes níveis de cuidados, e ajudando a reduzir a pressão nos centros de saúde e hospitais.
São propostas em discussão no 14.º Congresso das Farmácias, organizado pela Associação Nacional de Farmácias (ANF), que decorre até sábado em Lisboa.
Ao JN, a presidente da ANF, Ema Paulino, adiantou que o conceito já foi apresentado ao Ministério da Saúde, "que manifestou abertura para avaliar os projetos, embora ainda não tenham sido dados passos concretos".
Tal como já existe em algumas farmácias com os testes ao VIH/sida ou a hepatites ou como aconteceu durante a pandemia com os testes de antigénio à covid-19, a presidente da ANF defende a realização de testes que permitam rapidamente diferenciar se uma infeção é de origem vírica ou bacteriana, para agir em consonância.
Se for bacteriana, o doente tem de ser avaliado pelo médico, que fará a prescrição terapêutica; se for vírica "a situação pode resolver-se na farmácia" com medicamentos não sujeitos a receita médica para combater a sintomatologia, explica Ema Paulino. "Com o resultado do teste, podemos decidir se referenciamos o doente para outro nível de cuidados ou resolvemos na farmácia", nota, sublinhando a capilaridade da rede de farmácias, que chega a todo o país, e a formação dos profissionais. "Temos em média 3,9 farmacêuticos por farmácia, são equipas com elevado grau de formação", realça.
Protocolos ditam regras
Para que não haja "duplicação de tarefas", é necessária a partilha de informação clínica, um passo que está a ser dado com o Registo de Saúde Eletrónico. E para evitar o risco de se extravasarem competências profissionais, "o ideal é que tudo seja protocolado" com o envolvimento das ordens dos farmacêuticos e dos médicos, defende Ema Paulino, assegurando que as farmácias estão "disponíveis para trabalhar de forma colaborativa, porque querem ser parte da solução".
O presidente da Associação Nacional de Unidades de Saúde Familiar (USF-AN) lembra que os testes rápidos são meios complementares de diagnóstico e terapêutica e, como tal, ajudam no diagnóstico, mas não o substituem. Ainda assim, André Biscaia, reconhece que se o doente chegar ao centro de saúde já com a pesquisa da bactéria streptococcus na garganta, "a avaliação médica e prescrição será mais rápida".
Para o responsável, que também participará no congresso, "o papel das farmácias tem de ser aumentado". Concorda com os testes e com a referenciação dos doentes, mas sublinha também o papel na melhoria da literacia em saúde, no aconselhamento, na "prescrição" de autocuidados, na gestão da medicação e, em breve, na renovação das receitas dos doentes crónicos, que permitirá "aliviar muito o trabalho" nas unidades de saúde.
COLABORAÇÃO
Dispensa em proximidade
Inscrita no Orçamento do Estado (OE) 2023, a dispensa de medicamentos em proximidade está em fase final de implementação, segundo o Ministério da Saúde. Permite aos doentes aviarem na farmácia os medicamentos prescritos nos hospitais, evitando, em alguns casos, deslocações de centenas de quilómetros.
Renovação de receituário
É outra medida inscrita no OE 2023 com impacto na vida das pessoas e no trabalho dos hospitais e centros de saúde. As farmácias vão passar a fazer a renovação das receitas de medicamentos para doentes crónicos, prescritos no SNS. Segundo a tutela, "todos os meses mais de 150 mil doentes crónicos deslocam-se aos hospitais para obterem uma receita junto do seu médico".
Vacina da gripe
Desde 2020 que farmácias de todo o país administram vacinas da gripe do contingente do SNS, ao abrigo do programa "Vacinação SNS Local". Os custos da administração da vacina são suportados pelas autarquias.
Testes covid-19
Durante a pandemia, as farmácias colaboraram com o SNS na realização de testes de antigénio para a covid-19.