O número registou um aumento na ordem dos 25%, em parte justificado pela situação de conflito na Terra Santa, que contribuiu para o crescimento de peregrinos estrangeiros.
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O Santuário de Fátima recebeu, nos primeiros quatro meses deste ano, mais de um milhão de peregrinos, que participaram nas cerca de três mil celebrações efetuadas até 30 de abril. Comparado com o período homólogo de 2023, houve um acréscimo de 26%. Os dados foram revelados, este domingo à tarde, pelo reitor do Santuário, padre Carlos Cabecinhas, durante a conferência de imprensa de apresentação da peregrinação aniversária de maio, que começa hoje.
Na ocasião, o sacerdote destacou o facto de os números indicarem que a sazonalidade "se tem vindo a esbater", com a uma tendência "cada vez maior" para a vinda de grupos organizados entre novembro e abril, ou seja, fora do período de grandes peregrinações.
Outro aspeto realçado pelo reitor foi o aumento da presença de grupos estrangeiros, que passaram de 487, nos quatro meses iniciais de 2023, para 845 em igual período deste ano, com Carlos Cabecinhas a admitir que a guerra na Faixa de Gaza "tem influência" neste crescimento.
"O facto de muitos grupos não poderem deslocar-se à Terra Santa e desejarem fazer peregrinações a lugares e a santuários importantes tem influência neste aumento", admitiu o reitor, apontando ainda outras explicações para o aumento de afluência a Fátima, como o "recrudescimento da peregrinação, nomeadamente da peregrinação a pé".
Este tipo de manifestação "acaba hoje por ter um papel fundamental no contexto de reestruturação e de reconfiguração religiosa. É uma forma de manifestar a pertença religiosa", sustenta Carlos Cabecinhas, frisando também os efeitos da "recuperação pós-pandemia".
Já José Ornelas, bispo de Leiria-Fátima, destacou o "aumento da peregrinação entre os jovens", muito notado este ano em Fátima. "Não creio que seja simplesmente uma moda. Pode refletir uma busca de sentido de algo, que ajude a viver e interpretar este mundo e a própria existência", disse o prelado, admitindo também que a Jornada Mundial da Juventude, realizada no ano passado em Lisboa, possa ter também algum reflexo no crescimento dos jovens peregrinos.
"Neste mundo complexo em que vivemos, há uma busca por algo além do trivial, e Fátima tem um lugar" nessa procura, acrescentou José Ornelas, que nas declarações aos jornalistas reconheceu que um dos "grandes desafios" da Igreja se prende com a renovação na evangelização dos jovens.
"Precisamos de uma linguagem nova. O tempo mudou", defendeu o bispo, frisando que essa necessidade de renovação "vale para a Igreja e vale para a política".
"Na minha geração, quem fez a revolução [dos Cravos] foram os jovens capitães, que depois formaram partidos e assumiram outras responsabilidades. Precisamos de passar a bola, trabalhar com os jovens, para que estejam ativos na Igreja, na política e na sociedade", reforçou José Ornelas.