Fátima recebe debate sobre conversão de homossexuais. Diocese demarca-se de "jogos de terapias"
Fátima está a receber um congresso religioso dirigido a jovens, em que se discutirão o que os oradores consideram ser os "perigos da ideologia de género", e que conta com a presença de uma psicóloga conhecida por sessões de "reconversão" de homossexuais. A diocese demarca-se e recusa-se a entrar nesses "jogos".
Corpo do artigo
O site da Diocese Leiria-Fátima está a promover um congresso, organizado pela congregação religiosa Família do Coração Imaculado de Maria, subordinado ao tema "Homens e Mulheres de Verdade!", que decorre entre esta sexta-feira e domingo, na Casa dos Servos, em Fátima, e que conta com conferências dirigidas a jovens sobre homossexualidade, transexualidade e questões de género.
"Este ano a preocupação é levar os jovens a refletir sobre a beleza de ser homem e mulher, à luz da Teologia do Corpo de João Paulo II e dar-lhes respostas para as mentiras de uma ideologia de género que destrói a riqueza da identidade masculina e feminina", pode ler-se na descrição do evento, que tem como destaque a participação de Luca Di Tolve, que, nos anos 90, venceu em Itália o concurso televisivo "Mister Gay", e que hoje se diz "convertido" à heterossexualidade, sendo esse um dos pontos de debate.
"Diocese não entra nestes jogos de terapias de conversão"
Contactado pelo JN na sequência da divulgação do congresso, noticiado hoje pelo "Expresso", o bispo José Ornelas disse que "a diocese Leiria-Fátima não tem nada a ver com a organização", adiantando que "está atenta ao que se vai passar" e assegurando que "não entra nestes jogos de terapias de conversão”. Em comunicado enviado às redações e publicado também na página online onde a diocese promove o evento, o gabinete de comunicação de Leiria-Fátima acrescenta que "apenas veiculou a informação, como o faz habitualmente com outros movimentos e associações".
Na nota, a instituição defende que não se infere, em momento algum, "que haja divulgação e/ou promoção de práticas atentatórias à dignidade humana, pelo que se considera ser extrapolação todas as tentativas de associação da Diocese de Leiria-Fátima a este tipo de ideias e eventuais atos discriminatórios". "Neste particular, como em qualquer sector da vida da Igreja, orienta-nos a Doutrina da Igreja expressa no pensamento do Papa Francisco que, na linha da práxis cristã, sempre se posicionou do lado dos mais frágeis e marginalizados, combatendo todas as formas de discriminação", pode ler-se.
Queixa à Ordem contra psicóloga anti-LGBT que promove "reconversão"
A informação disponível na síntese do evento apresenta o italiano Luca Di Tolve, que se diz um "ex-gay" que se tornou heterossexual, como um jovem que vai partilhar "o seu testemunho depois de ter visto muitos amigos morrerem de SIDA, o que o fez cair numa profunda depressão e voltar-se para nossa Senhora". Atualmente, lê-se na publicação, Luca é casado, tem uma filha e uma associação em que "se dedica a ajudar os jovens de hoje a encontrar a sua verdadeira identidade".
Além do italiano, são convidados o padre Luigi Polvere, cujos estudos se debruçam sobre aquilo a que chama de "crise da paternidade na época pós-moderna”; a fundadora e colaboradora do programa Love Generation, Teresa Adão da Fonseca, para falar sobre o que considera os "perigos da ideologia de género"; "o casal Francisco e Teresa Tovar, que falarão da beleza do amor conjugal como missão para a santidade"; e a psicóloga Maria José Vilaça, oradora da conferência "Homossexualidade: o que nunca vos foi dito".
Sobre esta última participante, conhecida por promover sessões de "orientação espiritual" a homossexuais que tenta "reconverter", já foi enviada uma carta com mais de 1600 assinaturas à Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) a pedir a intervenção do bastonário. Maria José Vilaça, que não respondeu ao pedido de contacto do JN, posiciona-se publicamente contra as pessoas LGBTI+, o que já originou várias denúncias.
Na carta enviada à Ordem dos Psicólogos, os subscritores recordam que, em Portugal, desde 2023, a promoção de ações referentes a terapias de conversão é crime e que, se as intenções anunciadas pela organização do congresso se comprovarem, as ações exercidas junto de jovens "configuram um crime passível com multa e pena de prisão até três anos". "As terapias de conversão são crime e são um atentado contra os direitos humanos", diz Francisco Miranda Rodrigues, bastonário da Ordem.