A febre hemorrágica da Crimeia-Congo (FHCC), detetada em Portugal pelo primeira vez, segundo revelou a DGS, é uma doença causada por um vírus transmitido por carraças (Nairovirus) da família Bunyaviridae. Este vírus provoca surtos graves de febre hemorrágica viral, com uma taxa de mortalidade de 10% a 40%.
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Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a FHCC é endémica em África, nos Balcãs, no Médio Oriente e na Ásia, nos países abaixo dos 50 graus de latitude norte, o limite geográfico da carraça que é o seu principal vetor. Sobre o caso que provocou a morte a um homem em Bragança, ainda não se sabe como contraiu a doença. Os hospedeiros do vírus incluem animais selvagens e domésticos, como gado bovino, ovino e caprino. Muitas aves são resistentes à infeção, mas as avestruzes são vulneráveis e podem apresentar uma elevada prevalência de infeção em zonas endémicas.
"Os animais são infetados pela picada de carraças infetadas e o vírus permanece na corrente sanguínea durante cerca de uma semana após a infeção, de modo a que quando outra carraça pica o animal, o ciclo carraça-animal-carraça é perpetuado", lê-se numa página da OMS explicativa da doença. Embora existam vários géneros de carraças que podem ser infetadas com o vírus da FHCC, a Hyalomma é o principal vetor.
O vírus da FHCC é transmitido aos humanos através de "picadas de carraças ou por contacto com sangue ou tecidos de animais infetados durante ou imediatamente após o abate". Trabalhadores agrícolas, trabalhadores de matadouros e veterinários são grupos de risco de infeção. A transmissão entre humanos pode ocorrer em casos de "contacto próximo com sangue, secreções, órgãos ou outros fluidos corporais de pessoas infetadas".
Atualmente, não há vacina humana ou animal que possa evitar a doença.
Sintomas
Após a picada da carraça, a fase de incubação é normalmente de um a três dias, com um máximo de nove dias. O período de incubação após o contacto com sangue ou tecidos infetados é geralmente de cinco a seis dias, com um máximo documentado de 13 dias.
Segundo a OMS, os "sintomas começam subitamente, sob a forma de febre, mialgia (dor muscular), tonturas, dor e rigidez no pescoço, lombalgia, dor de cabeça, irritação ocular e fotofobia (hipersensibilidade à luz). Inicialmente, podem ocorrer náuseas, vómitos, diarreia, dores abdominais e dores de garganta, seguidas de alterações súbitas de humor e confusão". Há também possibilidade da ocorrência de taquicardia, inflamação dos gânglios linfáticos e o surgimento de equimoses na boca e garganta ou na pele, entre outros fenómenos associados a uma hemorragia.
Após dois a quatro dias, a agitação pode dar lugar a sonolência, depressão e fraqueza, podendo ocorrer dor abdominal no quadrante superior direito, com aumento do tamanho do fígado. Os sinais de hepatite estão normalmente presentes e os doentes muito graves podem sofrer uma deterioração renal rápida ou uma insuficiência hepática ou pulmonar súbita após o quinto dia de doença.
A taxa de mortalidade associada à FHCC é de aproximadamente 30%, com a morte a ocorrer durante a segunda semana. Entre os doentes que recuperam, a melhoria começa normalmente no nono ou décimo dia após o início da doença.