Vendedores recorrem a páginas do Facebook e criam sites para divulgar e vender produtos em época de restrições.
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Nelson Ribeiro e Eduardo Almeida voltaram-se para as redes sociais quando, em março, a pandemia os impediu de montar a banca nas feiras. Ana Sá seguiu-lhes as pisadas há cerca de mês. São feirantes há vários anos e, perante as dificuldades, reinventaram-se para tentar ultrapassar as dificuldades em que mergulhou o negócio, devido à covid-19 e às sucessivas medidas restritivas tomadas pelas autoridades em nome da segurança sanitária.
Dois apostaram em páginas do Facebook, um criou um site de raiz. No digital, divulgam produtos e aceitam encomendas. Todos, sem exceção, regressaram às feiras após o Governo ter permitido a reabertura da atividade. Ainda assim, mantêm a aposta na vertente digital, que se tornou um complemento essencial para atenuar os prejuízos e garantir a sobrevivência.
"Os feirantes, como se viram privados do exercício da atividade, tentaram fazer vendas utilizando as redes sociais. Muitos conseguiram, dessa forma, atenuar a aflição que estavam a ter", referiu Fernando Sá, presidente da Associação Feiras e Mercados da Região Norte, onde está estimada a existência de oito mil feirantes.
Não temos ordenado fixo
Os recentes rumores de um novo encerramento das feiras levaram Ana Sá a apostar no online. Não só pela divulgação dos artigos, mas porque os clientes assim o pediam. Nasceu, assim, o Facebook da "Petra Underwear". "As pessoas começaram a perguntar como é que nos podiam contactar. Principalmente, por causa dos artigos para crianças porque sempre se ouviu dizer que as escolas iam manter-se", disse a jovem de 32 anos, que representa a quarta geração de uma família de feirantes.
Apesar da página ser recente, Ana Sá garante que a recetividade dos clientes tem sido boa. As encomendas podem seguir por correio ou ser entregues em mãos durante as feiras. "A maioria das pessoas ainda gosta do presencial. Às vezes, as pessoas dizem o que querem para separarmos e depois vêm às feiras levantar", contou Ana Sá.
Durante a primeira vaga de covid-19, a incerteza sobre quanto tempo iria estar sem trabalhar foi uma das preocupações.
"Trabalhamos o dia a dia. Não temos ordenado fixo ao final do mês. Ficamos sem nada a partir do momento em que deixamos de trabalhar até o Governo disponibilizar os apoios. Estivemos dois meses mais ou menos a zeros", referiu.
Com a aproximação do Natal, antecipa-se uma quebra nas vendas nesta época que costuma ser forte. "As pessoas não estão a gastar tanto e a comprar o essencial. Não vemos que as pessoas estejam a gastar com muito à vontade. Estão muito cautelosas", revelou.
Tinha de dar a volta por cima
Nelson Ribeiro recusou cruzar os braços perante o confinamento obrigatório, decretado em março. Tem 32 anos e é a terceira geração da família a vender em feiras. Há cerca de meio ano, o negócio passou também a ser feito pela Internet. Primeiro, no Facebook. Depois, através do site "PetShop Nelson Ribeiro". Por lá encontra-se um pouco de tudo para aves, roedores, peixes, tartarugas, cães e gatos.
"Quando se falou [em encerrar as feiras] pensamos que em 15 dias ou um mês a situação fosse melhorar. Mas estivemos três meses impossibilitados de fazer feiras. Tinha de dar a volta por cima e a melhor forma foi começar pelas redes sociais para conseguir atrair um pouco mais de clientes", recordou o comerciante, notando que, ainda assim, "não se trabalha da mesma maneira". Até porque se perde o contacto cara a cara com o cliente, uma das grandes virtudes da venda nas bancas.
Desde a reabertura das feiras, em junho, Nelson Ribeiro estima uma quebra nas vendas entre os 60% e os 70%. Nas feiras, tem uma lona pendurada junto à banca a fazer publicidade ao serviço online. As encomendas podem ser feitas por telemóvel ou por e-mail, através dos contactos disponibilizados no site. Depois, os artigos seguem por correio até ao domicílio do cliente. Ou, em alternativa, podem ser entregues em mão durante as feiras que se fazem por toda a região.
Cheguei a ter três carros na rua
"Uma seleção de frutas e legumes sempre frescos à distância de um telefonema". É com esta a frase, escrita na página do Facebook "Maria José Peixoto Moreira Canelas - Frutas e Legumes", que Eduardo Almeida dá as boas-vindas aos seus clientes nas redes sociais. É a mulher quem empresta o nome ao negócio. Já lá vão quase quatro décadas de vida em comum e outras tantas a dividir o trabalho. Aventuraram-se no digital e nas entregas ao domicílio quando a pandemia ditou o encerramentos das feiras. Aos clientes habituais foram-se juntando outros novos. "O online veio ajudar a aguentar o negócio numa fase muito difícil. Ajudou a não se mexer no [dinheiro] que estava parado", disse.
Ainda assim, o negócio conheceu uma quebra. Até porque online "a venda não é igual". "Se o cliente me pedir um quilo, não vou meter mais de um quilo. Nas feiras, o cliente leva o que lhe apetecer. É totalmente diferente. Deu para ir subsistindo, mas não dava para amealhar nada. As despesas eram muitas. Cheguei a ter três carros na rua de um lado para o outro", recordou.
Após a reabertura das feiras, o casal manteve a página de Facebook ativa. "Antes, tínhamos uma vantagem: as pessoas estavam todas confinadas em casa e a qualquer altura se podia fazer entregas. O que agora não se está a passar. É diferente da primeira vaga", contou Eduardo Almeida, sem descartar a hipótese de manter o serviço online após a crise pandémica. "Porque não? Desde que os clientes adiram", referiu.