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O secretário-geral do PSD, Feliciano Barreiras Duarte, demitiu-se este domingo, um mês após ter sido eleito no congresso e depois de polémicas em torno do seu currículo académico.
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"O limite do combate político é quando atinge gravemente a minha família e a expõe ao intolerável", escreveu Feliciano Barreiras Duarte, este domingo, num comunicado que enviou às redacções. O secretário-geral do PSD escolhido por Rui Rio no congresso de 16 de fevereiro ficou pouco mais de um mês no cargo. Sucumbiu à sucessão de imprecisões sobre o seu passado académico e político, e à pressão imposta pelo partido nos últimos dias. Mas sai "de consciência tranquila" e "sem arrependimentos".
Num longo texto, o social-democrata considera estar a ser vítima de uma "violência inusitada", razão pela qual apresentou "um pedido irrevogável de demissão", que o presidente do partido já aceitou. Ao mesmo tempo, diz ter a "perfeita consciência" - "como qualquer observador minimamente atento", sublinha -, de que não é ele o alvo dos ataques, mas sim "o líder do Partido e a sua direcção".
E ensaia a defesa para cada um dos ataques. O primeiro sobre o facto de ter usado no seu currículo, durante dez anos, um estatuto proveniente de uma universidade americana onde nunca na realidade esteve.
"Primeiro foi a acusação de não ter sido "visiting scholar" e de ter falsificado um documento que o provava", começa por enunciar. "Dois dias depois, quem acusou desdisse-se e a acusação, tão inusitada quanto absurda, caiu por terra; o que não impediu que a comunicação social e até alguns correligionários continuassem, até agora, e apesar da acusação ter deixado de existir, a bramar que eu tinha falsificado um documento e, por essa via, adulterado o meu currículo académico."
Barreiras Duarte explica que "não há, como foi criminosamente sugerido, quaisquer paralelismos com situações de falsas licenciaturas, feitas por equivalências, ou licenciaturas feitas ao domingo." Reconhece, contudo, que terá sido "imprudente" ao "manter tanto tempo essa referência, sem ter uma renovação formal do estatuto". Ainda assim, insiste: "a inscrição é sempre foi verdadeira, a universidade informou-me que estava inscrito."
Sobre o facto de viver em Lisboa e ter entreguado no parlamento a morada do Bombarral para poder beneficiar, enquanto deputado deslocado, de um suplemento acrescido que rondará os mil euros, nega qualquer intenção de obter proveitos e exige um esclarecimento ao parlamento.
"É essencial uma clarificação total sobre as regras dos benefícios e ajudas de custo aos deputados, bem como uma metodologia de acolhimento aos deputados que não permita situações de dúvida nas informações prestadas". Por essa razão, anuncia que já dirigiu um requerimento ao Presidente da Assembleia da República.
Barreiras Duarte garante que sai de "consciência tranquila", e que nunca ganhou nada com nenhuma das acusações que lhe são imputadas. "Não tirei qualquer proveito da Universidade de Berkely - nem financeiro, nem de grau académico, nem profissional, nem político; não procurei qualquer benefício material ou outro, antes pelo contrário, com a questão da morada no Parlamento."
Finalmente, diz que vai "aguardar serenamente os resultados do inquérito que a Procuradoria-Geral da República", esperando entretanto que a sua demissão "faça cessar os ataques à direcção do PSD".
