O diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), Fernando Araújo, demitiu-se esta terça-feira, ao fim um ano e três meses em funções. A "grande reforma" na saúde, com a criação das novas Unidades Locais de Saúde (ULS), que o médico preconizou desde o primeiro dia, pode ter ditado a sua saída.
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Foi Fernando Araújo que estreou o cargo de diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), criado ainda em agosto de 2022 com vista a coordenar a resposta assistencial das unidades de saúde públicas depois da experiência da pandemia.
O médico especialista assumiu, a 2 de novembro de 2022, uma função que, na altura, gerou dúvidas e críticas por parte do setor e dos partidos. Mas a liderança de um dos hospitais de peso no combate à pandemia e os bons indicadores do SNS na região Norte jogaram a seu favor.
Até então presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário São João (CHUSJ), no Porto, desde abril de 2019, foi nomeado, em Conselho de Ministros, para liderar, durante três anos, a recém-criada entidade que só entrou em pleno funcionamento a 1 de janeiro de 2023, com a entrada em vigor do Orçamento do Estado. A própria concretização da DE-SNS foi um desafio que enfrentou: a equipa de Araújo esperou um ano pela aprovação dos estatutos. Temeu-se que a falta de regulamentação o empurrasse para a demissão.
Enquanto diretor-executivo, Fernando Araújo enfrentou os sucessivos encerramentos dos serviços de urgência de norte a sul do país, a falta de profissionais para assegurar escalas e o fecho de urgências de obstetrícia. A criação das recentes 31 Unidades Locais de Saúde (ULS) espalhadas pelo país - a somar às oito que já existiam - foi das medidas mais importantes que o médico preconizou. Embora o novo modelo possa ter levado à sua demissão, foi alcançada a "maior reforma de organização" do SNS nos últimos 45 anos, afirmou num comunicado divulgado esta terça-feira.
Araújo deixa o cargo cinco dias depois de a ministra da Saúde ter dado 60 dias à DE-SNS para entregar um relatório sobre a mudança em curso. Aliás, foi o novo modelo que levou Ana Paula Martins a sair da administração do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, escolhida, na altura, por Fernando Araújo. Curiosamente, a transformação pode ter agora ditado a sua saída devido à diferença de visões sobre o futuro funcionamento do SNS.
Médico e gestor com uma vasta experiência, conhecido como exigente e cauteloso, chegou a ser apontado como um nome provável para assumir a pasta da Saúde depois de Marta Temido se ter demitido. Recorde-se que Araújo foi muito crítico da socialista.
Fernando Araújo foi secretário de Estado Adjunto e da Saúde do ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes, entre 2015 e 2018. Foi no São João que exerceu medicina e, entre 2012 e 2015, foi diretor do serviço de imuno-terapia daquele hospital e do Centro de Medicina Laboratorial. Ainda antes presidiu a Adminstração Regional de Saúde (ARS) do Norte.
O médico portuense, nascido em 1966, formou-se em medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, onde também tirou o doutoramento. Do seu percurso académico consta ainda uma pós-graduação em Gestão de Serviços de Saúde pela Universidade Católica do Porto.
No seu vasto currículo, Fernando Araújo foi membro do Conselho Nacional para o SNS da Ordem dos Médicos e presidiu o Colégio da Especialidade de Imuno-hemoterapia. Exerceu várias responsabilidades ao nível da gestão intermédia e de topo em instituições de saúde e lecionou, entre 2007 e 2015, na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.