Ferro Rodrigues afirmou, esta terça-feira, que "tinha o dr. Passos Coelho como um democrata", considerando graves as afirmações do antigo primeiro-ministro, que admitiu um acordo de governo entre PSD e Chega. O antigo líder socialista insistiu que a demissão do primeiro-ministro foi "precipitação" de Costa e Marcelo.
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Questionado sobre um cenário de aliança entre o PSD e o Chega, Ferro Rodrigues afirmou que "Pedro Passos Coelho terá dito hoje [terça-feira] qualquer coisa nesse sentido". Reportando-se a notícias segundo as quais o ex-líder do PSD "terá feito uma limpeza de imagem para esse contexto", o também ex-presidente do Parlamento considerou que "é uma coisa muito grave".
"Acho que tudo aquilo que seja lavar a imagem de forças e ideias que são extremistas, que são ideias contra a democracia, contra o Estado social, contra a liberdade, não devem ser toleradas e vindo de uma pessoa que foi primeiro-ministro, que foi presidente da JSD, considerado um democrata e progressista, fico completamente espantado com isso", disse aos jornalistas no Porto, à margem da apresentação do seu livro "Assim vejo a minha vida", que contou com Rui Rio.
De manhã, questionado sobre um eventual acordo entre o PSD e o Chega após as eleições de março, Passos comentou que isso vai depender das estratégias que vierem a ser definidas pelos partidos "e das condições que os portugueses" lhes atribuírem nas legislativas.
Parágrafo que demitiu Costa foi "indecente"
"A sensação que tenho, falando numa expressão que hoje foi utilizada, é que há realmente muitas coisas indecentes em Portugal", disse ainda Ferro aos jornalistas, instado a responder se o Ministério Público "está acima de tudo e todos". E, a seu ver, "uma coisa indecente em Portugal é ter havido um parágrafo que foi escrito por uma procuradora-geral e que demitiu um primeiro-ministo que tinha sido livremente escolhido pelos portugueses por uma maioria absoluta e um Parlamento democrático".
A propósito, reafirmou que "houve uma precipitação" do primeiro-ministro em ter apresentado a sua demissão e do presidente da República por ter aceite esta demissão "sem pestanejar praticamente".
Indecente foi o adjetivo usado de manhã por Passos Coelho. Considerou que a demissão de António Costa, na sequência da operação Influencer, se deveu a "indecente e má figura". "Espero que o país saiba identificar no Governo que está a cessar funções responsabilidades graves na situação a que o país chegou. Suficientemente graves para que o primeiro-ministro tenha sido o único que tenho memória que tenha sentido necessidade de apresentar a demissão por indecente e má figura", declarou o antigo líder do PSD.
Riscos da extrema-direita
Já ao final do dia, na Reitoria da Universidade do Porto, Ferro Rodrigues deixou um alerta, notando que "o Estado de direito corre perigos em Portugal", aludindo às "forças reacionárias que estão a ganhar terreno".
"É uma situação grave e Portugal não escapa e, se houver ajuda de pessoas com grande poder e responsabilidade para essa força e emergência de extrema-direita, corre-se muitos riscos em Portugal", alertou o antigo secretário-geral socialista.
Antes de Ferro Rodrigues, falou aos jornalistas o ex-líder do PSD Rui Rio, um dos oradores na apresentação do livro, que disse ter a expetativa que a sua presença sirva de exemplo, "numa altura em que a sociedade está tão extremada e agressiva". Nas últimas semanas, ambos coincidiram nas críticas ao sistema judicial, após António Costa se ter demitido na sequência de um inquérito judicial instaurado pelo Ministério Público.
Rio lamenta discurso "radicalizado"
Rui Rio não quis reagir às palavras de Pedro Passos Coelho sobre a demissão do primeiro-ministro, nem dar palpites sobre a estratégia a seguir por Luís Montenegro nas eleições: "Manda o bom senso, equilíbrio e os meus princípios éticos que agora tenha recato e não ande a comentar aquilo que quem me sucedeu está a fazer".
"Estamos todos a fazer o que é melhor para Portugal e, nesse sentido, devemos respeitar quem tem ideias diferentes e hoje infelizmente isso tem-se esbatido muito. O discurso está completamente radicalizado, as pessoas comportam-se como tribos. Não há tribos, temos ideias diferentes, mas devemos respeitar", declarou ainda à entrada para a sessão de apresentação do livro.
Sobre legislativas, disse apenas ter a expetativa de que o PSD possa vencer. "Acho que sim, que tem hipóteses como é evidente", respondeu o antigo presidente da Câmara do Porto e ex-líder do PSD.
Esta terça-feira, Rio remeteu para a entrevista concedida ao JN, na qual defendeu que a procuradora-geral da República, Lucília Gago, deveria abandonar o cargo, na sequência da operação Influencer, que levou à demissão do primeiro-ministro.