A implementação do novo sistema de controlo de fronteiras aumentou tempos de espera nos aeroportos de Lisboa e Faro. A Associação Sindical dos Profissionais da Polícia denuncia “situação limite”
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O novo sistema de controlo de fronteiras continua a provocar atrasos significativos e grandes filas nos aeroportos, numa altura em que o calor já atrai milhares de turistas e se aproximam os habituais picos de tráfego do verão. Apesar de alguma melhoria nesta semana, esta terça-feira houve passageiros que esperaram cerca de uma hora na fila nos postos de controlo documental para mostrar os passaportes no aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, num dia com poucos voos de origem fora do espaço Schengen. Situação semelhante vive-se no aeroporto de Faro, que recebe diariamente turistas do Reino Unido.
O que deveria ser o início tranquilo de umas férias transformou-se numa experiência desgastante para muitos. “Foi uma espera bem cansativa”, desabafa Marise, ao sair do terminal 1 do aeroporto, acompanhada pelo marido, Marco. O casal, natural de Vitória, no Brasil, esteve quase uma hora na fila. “A demora foi devido à quantidade de pessoas porque na hora do controlo foi rápido”, explica.
Vieram preparados, com reservas de alojamento impressas, por precaução. “Na agência avisaram que podiam pedir documentação sobre o local onde ia ficar hospedado. Mostrei só a do primeiro local e foi suficiente”.
Também Camila, de São Paulo, que chegou com o companheiro e a sogra para visitar familiares em Portugal, relata cerca de uma hora de espera. “Esperávamos ter alguma fila, mas não tanto”, comenta. “A verificação foi tranquila. Um agente viu os passaportes e fez algumas perguntas, mas foi rápido”.
A espera não foi igual para todos. Ao longo da manhã, variou consoante a afluência destes voos internacionais. Regina e George, que viajaram de Boston, nos Estados Unidos, para Lisboa, esperaram apenas 15 minutos.
“A fila para passaportes manuais estava enorme, mas a dos terminais eletrónicos estava curta, embora só quatro funcionassem, e apenas com dois funcionários”, contam. O casal norte-americano confessa ter ficado agradavelmente surpreendido. “Esperávamos que demorasse mais. Mas comparado com outros aeroportos, até fomos bem recebidos”.
Segundo apurou o JN, registaram-se filas maiores nos postos destinados a cidadãos de fora da União Europeia. E nem todos os quiosques 'rapid' estavam a funcionar. Para passageiros nacionais a entrada foi bastante mais rápida. Luís e Miguel, regressados de Salvador da Baía, no Brasil, confirmam: “Pensámos que fosse pior. Havia alguma fila, mas foi fluido. Demorámos uns dez minutos”.
Faltam recursos humanos
Há uma semana que encontrou em funcionamento o novo sistema. Na entrada de passageiros passa a ser obrigatória a recolha de dados biométricos, neste caso a imagem facial e a impressão digital. E o controlo de vistos, bem como do histórico de movimentos dos cidadãos provenientes de países fora dos espaço Schengen, é mais rigoroso.
O objetivo é tornar o processo mais eficiente, mas a Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP) tem vindo a denunciar, nos últimos dias, as dificuldades à boleia desta mudança- E voltou a denunciar a falta de recursos humanos e técnicos, alertando para o impacto na Unidade de Serviços de Estrangeiros.
Num ofício enviado à Direção Nacional da PSP, com conhecimento da ministra da Administração Interna, a estrutura sindical fala numa “situação limite”, com agentes exaustos e quadros de ‘burnout’, devido a cortes de folgas e excesso de horas extra.
Ajustes estão para breve
Os tempos de espera superiores aos normais ”é uma má experiência para quem nos visita”, reconheceu o diretor de operações da ANA Aeroportos. Esta terça-feira, Pedro Pita admitiu, em entrevista à CNN Portugal, que se está a atravessar “uma situação operacional difícil” devido à implementação do novo sistema de controlo de fronteiras. O responsável assegurou que a ANA está a colaborar para que o problema se resolva “o mais brevemente possível”. E manifestou-se disponível para apoiar a “gestão de fluxos” e a “colocação de mais balcões”.
Já o presidente NAV avançou há poucos dias que a entidade irá evitar que os profissionais gozem férias durante os próximos meses, bem como assegurar que os controladores de tráfego aéreo estarão totalmente disponíveis para garantir a capacidade máxima de resposta durante o verão. Em entrevista à Antena 1 e ao Jornal de Negócios, Pedro Ângelo garantiu que o Governo tem estado a promover reuniões com todos os intervenientes para otimizar recursos e minimizar os impactos. Para o responsável, a única solução a longo prazo é construir o novo aeroporto.