O rei de Espanha lembrou, no parlamento português, a crise económica que afetou gravemente os cidadãos dos dois países.
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"Nos últimos anos, tanto Espanha como Portugal sofreram uma crise económica que afetou gravemente os nossos cidadãos. Hoje, as nossas economias retomaram a senda do crescimento e continuar a trabalhar no aprofundamento da relação económica bilateral é a melhor maneira de consolidar a recuperação, a criação de emprego e a sustentabilidade do modelo social que partilhamos", defendeu Filipe VI.
O chefe de Estado espanhol discursava na Assembleia da República numa sessão solene de boas-vindas por ocasião da visita de Estado de três dias a Portugal que termina esta quarta-feira em Lisboa.
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O rei de Espanha defendeu ainda a concertação e irmandade ibéricas na União Europeia (UE) ao serviço dos interesses comuns e como apoio solidário "em momentos de dificuldade".
"Quanto melhor vá a Europa melhor irão Portugal e Espanha" e "quanto melhor sigam Espanha e Portugal, melhor caminhará a Europa", declarou.
Na sua intervenção de 19 minutos, o rei Filipe VI destacou a Península Ibérica enquanto "alternativa rentável para o abastecimento energético da Europa", e o interesse comum em melhorar as ligações energéticas com o resto do continente. "Espanha e Portugal querem converter a Península Ibérica numa alternativa rentável ao abastecimento energético da Europa. Com esse fim se orientam a recente criação de um mercado ibérico do gás e a dinamização do mercado ibérico da eletricidade. Daí o nosso interesse comum em melhorar as interconexões energéticas com o resto da Europa", defendeu Filipe VI.
Na cerimónia parlamentar de boas-vindas aos reis de Espanha, o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, afirmou que Portugal e Espanha têm "interesses estratégicos comuns" e devem trabalhar em conjunto para responder aos "desafios e ameaças" que pairam sobre a Europa e o mundo.
"Independentemente das cores políticas dos nossos governos, os nossos interesses estratégicos são comuns e, como tal, é em conjunto que devem ser defendidos", sinalizou Ferro Rodrigues.
Independentemente das cores políticas dos nossos governos, os nossos interesses estratégicos são comuns
Depois, o presidente da Assembleia da República traçou um comparativo entre um discurso no parlamento português do antigo rei Juan Carlos, há 16 anos, e o atual momento, com Filipe VI a falar também perante os deputados de Portugal.
"Dezasseis anos não é muito tempo na história secular dos nossos países, mas estes foram de facto 16 anos que mudaram a nossa Europa e o nosso mundo. Vivemos hoje num ambiente estratégico internacional completamente diferente", declarou, falando depois de exemplos como a "nova dimensão global" do terrorismo, a proliferação de "Estados falhados e guerras civis", o aquecimento global ou o "drama humano dos refugiados".
Ferro lembrou também que, em 2000, a União económica e monetária "ainda estava a dar os primeiros passos", e depois as economias portuguesa e espanhola tiveram de se adaptar ao "impacto do alargamento da Europa a leste, da abertura comercial à Ásia, e da integração nas regras da moeda única".
Nesse campo, o presidente dos deputados foi perentório: "A União Europeia respondeu de forma tardia e insuficiente, deixando que a crise financeira se transformasse numa crise de dívidas soberanas com consequências muito graves nos sistemas políticos, sociais e financeiros".
Portugal e Espanha, ainda na matéria económica, estiveram "unidos" na "condenação da hipótese de sanções contraproducentes e injustas" no que refere aos défices excessivos, valorizou Ferro Rodrigues.
Portugal e Espanha têm o privilégio de não terem partidos xenófobos com representação parlamentar
"Estivemos e estamos solidários com a causa humanitária dos refugiados. Portugal e Espanha têm o privilégio de não terem partidos xenófobos com representação parlamentar. Apesar de tudo, ainda somos das opiniões públicas mais favoráveis ao projeto de construção europeia", prosseguiu.
Portugal e Espanha, advogou, "sabem bem pela sua experiência histórica" que o caminho da "prosperidade" se faz com a "abertura ao mundo e não" por via do "isolamento nacionalista".
"A consolidação histórica da relação de amizade entre Portugal e Espanha dá-nos condições únicas para percorrermos como bons irmãos os desafiantes caminhos do futuro", disse ainda Ferro Rodrigues, antes de passar a palavra a Filipe VI para uma intervenção do rei de Espanha aos deputados portugueses.
No seu discurso, Ferro Rodrigues citou alguns pensadores e homens da cultura de Espanha, casos de Cervantes ou Ortega Y Gasset, e valorizou ainda, por exemplo, o facto de "há 30 anos, no mesmo dia", Mário Soares e Felipe Gonzalez terem assinado o tratado de adesão de Portugal e Espanha à então Comunidade Económica Europeia (CEE).
Entre os convidados sentados nas galerias, que não enchiam os lugares disponíveis, estavam o ex-presidente da República Ramalho Eanes, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, e o ensaísta Eduardo Lourenço.
Nas bancadas parlamentares também se encontravam alguns lugares vazios entre as 230 cadeiras destinadas aos deputados.
Depois do presidente da Assembleia da República declarar encerrada a sessão, às 11.45 horas, ouviram-se os hinos de Portugal e Espanha.
Depois de passarem pelo Porto e Guimarães, os reis de Espanha, Filipe VI e Letizia, chegaram na terça-feira a Lisboa, onde foram recebidos nos Paços do Concelho, tendo depois o primeiro-ministro, António Costa, oferecido um jantar no Palácio das Necessidades.
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Esta quarta-feira é o último dos três dias de visita de Estado dos reis espanhóis a Portugal.