Fim de confinamentos e regresso de festivais fazem subir vendas da pílula do dia seguinte
Especialista defende que recurso à contraceção de emergência é sinal de responsabilidade. Desconfinamento e festivais podem explicar subida.
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A venda da pílula do dia seguinte está a aumentar e a ultrapassar os valores pré-pandemia. Este ano, em Portugal, até junho, foram vendidas 85 810 mil embalagens do anticoncecional de emergência, um aumento de 30% face ao mesmo período do ano passado quando foram comercializadas 65 853 unidades. Até dezembro de 2022, as vendas devem ultrapassar as quase 149 mil pílulas comercializadas em 2021 nas farmácias.
Os números, avançados ao JN pela Associação Nacional de Farmácias (ANF) pertencem ao CEFAR, Centro de Estudos e Avaliação em Saúde, e estão de acordo com o esperado pelos especialistas. "Com o fim do confinamento, voltaram os festivais, as queimas das fitas, as festas e o convívio entre as pessoas", disse ao JN Ana Rosa Costa, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Contracepção e médica no Hospital de S. João, no Porto.
Impede a ovulação
"O uso da contraceção de emergência é sinal de que as pessoas são responsáveis e de que estão a cair as ideias erradas acerca deste tipo de pílula que, contrariamente ao que algumas pessoas dizem, não é abortiva nem é uma bomba hormonal", frisou a médica.
Na prática, estudos clínicos referem que a pílula "impede ou atrasa a ovulação". "No caso de a ovulação ocorrer entre a relação sexual não protegida e a toma da pílula do dia seguinte, a pílula já não vai impedir uma gravidez", explicou a vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Contracepção. Nos últimos três anos, o pico das vendas ocorreu em agosto, dezembro e janeiro, períodos em que, tradicionalmente, por causa das férias e das festas, há mais convívios. Os meses com menos vendas nas farmácias foram abril de 2020, com apenas 7146 dispensas, e fevereiro de 2021, com 8843. "Foram os meses em que houve confinamento e em que houve muitos casos de covid-19", refere a médica Ana Rosa Costa.
Em números, em 2019 venderam-se 156 171 embalagens. Em 2020, o número caiu para as 137 848 e, em 2021 subiu para as 148 865. Os distritos com maior número de dispensas são Lisboa, Porto, Setúbal, Faro e Braga. Portalegre é o distrito com menos vendas. No ano passado, foram vendidas 1036 e, este ano, até junho, 568. Por comparação, em Lisboa, no ano passado, foram vendidas 48 184 embalagens e, este ano, 28 955.
"A contraceção de emergência é isso mesmo: para ser usada numa emergência quando não se usou nenhum outro meio ou quando a contraceção usada falha", finalizou a médica.
Receita
Faturação acima de três milhões
Nas vendas em farmácia e parafarmácia, os contracetivos de emergência representaram um volume de vendas, entre junho de 2021 e junho de 2022, de 3,187 milhões de euros, superando os valores da pré-pandemia. Os dados fornecidos ao JN pela consultora iQVIA Portugal mostram que as vendas estão a aumentar. No mesmo período de 2020 a 2021, a faturação baixou para 2,619 milhões de euros e no período homólogo de 2019/2020 foi de 2,680 milhões de euros.
Números
28 955 embalagens foram vendidas até junho no distrito de Lisboa, mais do dobro das vendidas no Porto (12 941), o que equivale a uma taxa de 40% por cada 100 mil mulheres na região.
148 865 embalagens vendidas em 2021 nas farmácias, um aumento de 8% face a 2020 (ano do grande confinamento) quando se registou uma queda de 11,7%. Em 2019, tinham sido vendidas 156 mil caixas.