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O combate aéreo aos incêndios em Portugal vai deixar de ser feito apenas pelas empresas de aviação civil. Em 2026, a Força Aérea Portuguesa vai empenhar militares no terreno, apoiados por helicópteros UH-60 Black Hawk que vão fazer parte do dispositivo especial de combate aos incêndios rurais. A nova missão fez com que a Esquadra de voo 551 fosse reativada 37 anos depois na Base Aérea N.º8, em Maceda, Ovar.
É na base mais a Norte de Portugal da Força Aérea Portuguesa que está a nascer um verdadeiro centro de operações no combate a incêndios rurais e que abriu pela primeira vez as portas à equipa de reportagem do JN. As estrelas são os nove helicópteros UH-60 Black Hawk. Até ao momento, quatro já estão nas mãos da Força Aérea e sediados no novo hangar desta da Base Aérea N.º8, em Maceda, que está a ganhar uma nova vida.
Trata-se de aeronaves versáteis, com autonomia de voo de 2.50 horas, capacidade para transportar até 2950 quilos de água e de varrer a zona Norte em minutos. O investimento nestes bombardeiros chegou aos 70 milhões de euros, na sua maioria financiados com verbas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Os outros cinco serão entregues nos próximos meses e numa versão atualizada. A potência dos motores passará de 1600 para 1900 cavalos, têm capacidade de levantar mais peso e destes há três que já vêm equipados com radares meteorológicos, facilitando as missões em ambientes de fraca visão e que impliquem voos dentro de nuvens.
Estreia nos fogos com segurança
A localização dos meios a Norte é estratégica e os números oficiais da Direção Nacional de Gestão do Programa de Fogos Rurais não enganam: foi nos distritos do Porto (1381), Braga (633) e Viana do Castelo (592) onde deflagraram mais incêndios entre janeiro e outubro do ano passado. E é acima do Mondego onde também se regista a maior área ardida. Com capacidade para atingir 314 km/h, as novas aeronaves conseguem sair daquela base, ao lado da praia de Maceda, e chegar em meia hora a Vila Real ou à Serra da Estrela, e em 10 minutos à Serra da Freita, no concelho de Arouca.
Foi esse o teatro de operações escolhido pela equipa de cinco militares, encabeçada pelo Comandante de Esquadra, Major Henriques Fernandes, para o primeiro treino do dia dedicado à qualificação dos operadores de sistemas, cruciais na hora de “auxiliar a decisão dos pilotos na desmarcação dos obstáculos e encaminhamento para apanhar e largar água”, aponta o militar. Ao longo de duas horas, foram realizados exercícios de aproximação em terrenos não preparados, mais confinados e contornos de relevo. A prioridade é capacitar e qualificar toda a tripulação até à execução das primeiras missões no próximo ano. Até porque é a primeira vez que estes militares vão combater as chamas ao lado dos pilotos das empresas civis especialistas no setor.
“É importante criar fundações sólidas para depois conseguirmos evoluir e crescer. Numa fase inicial vamos manter essa capacidade nesta unidade e com o tempo e o crescimento natural que vamos ter, começar a projetar para outros sítios”, antecipa o coronel Sérgio Estrela, comandante da Base Aérea N.º8. "São missões arriscadas, que estão associadas todos os anos em Portugal a alguns incidentes e isso requer muito treino, muita proficiência e também um julgamento muito bom daquilo que conseguimos ou não fazer", acrescenta o comandante Henriques Fernandes.
Mas, afinal, o que é que estas aeronaves vão acrescentar e que pode facilitar o combate? Henriques Fernandes realça por si só a vantagem de existirem mais meios aéreos disponíveis. Mas há mais: “Estes helicópteros são fáceis de pilotar e são amplamente usados no mundo, são muito versáteis e bastante estáveis com e sem carga suspensa e permitem também o transporte entre 12 e 14 passageiros”, indica.
Sete pilotos
Compõem atualmente a esquadra 551, onde também se contam dois operadores de sistemas qualificados e quatro em fase de qualificação. Este ano, chegam mais oito pilotos e entre seis e oito operadores de sistemas.
Seis bases aéreas
Estão espalhadas em todo o território nacional. De Ovar às Lajes, nos Açores, somam-se também as de Sintra, Leiria, Montijo, Beja. Além disso, a FA dispõe ainda do Aeródromo de Trânsito n.º1, em Lisboa, do Aeródromo de Manobra N.º3 do Porto Santo, na Madeira, do Centro de Treino de Sobrevivência, no Montijo, do Centro de Formação Militar e Técnica, em Alenquer, do Campo de Tiro, em Samora Correia, e do Depósito-Geral de Material, em Alverca do Ribatejo.
De aeródromo de manobra para Base Aérea, os UH-60 Black Hawk estão a transformar e dinamizar a unidade localizada em Ovar. Há mais efetivos, infraestruturas de apoio e uma atividade constante de meios aéreos. Também já está em curso a construção de habitações para os militares e as respetivas famílias.
O primeiro passo foi dado em novembro de 2023 com a transformação do aeródromo militar em Base Aérea e com a reativação, mais de três décadas depois, da Esquadra 551, batizada com o cognome “Os Panteras”, que vai operar os helicópteros. A base alberga, atualmente, 233 militares e 49 civis. O hangar de apoio às aeronaves foi inaugurado este mês e as obras de construção do novo edifício que vai dar lugar à Esquadra deverão estar concluídas até ao final do ano. A maioria do investimento está inserido no PRR. Está também em projeto avançado a construção de novos edifícios de alojamento para militares.
Mais meios aéreos, menos operacionais
Para este ano, o Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais (DECIR) contará com 11 161 operacionais, 2293 equipas e 2417 viaturas entre 1 de julho e 30 de setembro, o período de maior empenhamento de meios. Segundo a diretiva aprovada na Comissão Nacional de Proteção Civil, os meios mobilizados nesta fase, denominado “nível Delta”, até podem aumentar caso seja necessário. O número de elementos de combate pode ascender aos 15 mil e, em 24 horas, podem ser mobilizados mais 3863 operacionais, 279 equipas e 999 viaturas.
Ainda assim, estes números ficam aquém do número de operacionais envolvidos no mesmo período em 2024. Na altura, contaram-se 14 155 elementos, 3162 equipas e 3173 viaturas. Quanto aos meios aéreos, a diretiva não especifica o total de meios aéreos. À Lusa, fonte da Proteção Civil disse que podem chegar aos 76, mais quatro do que em 2024.
Há ainda a registar que o primeiro reforço de meios vai acontecer já em maio, com o início da fase “Delta”. Entre 15 e 31 de maio, vão estar em prontidão 8882 elementos, 1788 equipas e 1873. O maior número de operacionais envolvidos pertence aos bombeiros (8148), sendo que 3799 são das Equipas de Intervenção Permanente. O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas tem 2248 elementos destacados, 449 militares da GNR e 74 da Força Especial de Proteção Civil.