Frederico Pinheiro: "Fui insultado pelo primeiro-ministro e pelo ministro em direto"
Frederico Pinheiro, o antigo adjunto de João Galamba, afirmou, em entrevista ao Jornal “Público”, que foi “insultado pelo primeiro-ministro e pelo ministro em direto "perante milhões de portugueses", não tendo ainda decidido se vai processar judicialmente membros do Governo. Venda da TAP será "danosa" para o país
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Já passou quase meio ano da inusitada noite no Ministério das Infraestruturas – quando levou um computador com informação classificada daquele edifício -, mas o episódio ainda está bem vincado na memória de Frederico Pinheiro.
“Só muito recentemente é que consegui assistir na totalidade às conferências de imprensa que o senhor primeiro-ministro e o senhor ministro das Infraestruturas deram sobre este caso. Estive meses a preparar-me para ouvir e eu já sabia o que é que diziam porque tinha lido nos jornais. Mas é algo duro, insultuoso, difamatório, injurioso. E, do ponto de vista pessoal, não é fácil de ouvir”, contou em entrevista ao jornal “Público”.
“Fui insultado pelo primeiro-ministro e pelo ministro em direto”, acrescentou.
Contudo, o ex-adjunto de João Galamba e de Pedro Nuno Santos ainda não decidiu se vai avançar com um processo contra o primeiro-ministro e o ministro das Infraestruturas por difamação. “Sei que se avançar judicialmente para proteger os meus direitos e o meu bom-nome na justiça contra entidades políticas tão poderosas, à medida que o tempo vai passando, os meus filhos podem-se aperceber do que está a acontecer. E eu pondero bastante essa situação”, admitiu.
Recorde-se que o ex-assessor foi demitido do Ministério das Infraestruturas, no dia 26 de abril, depois da polémica sobre as notas pessoais da reunião entre a então CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener, e os deputados socialistas, momentos antes de uma audição parlamentar.
Na noite dia 26 de abril, Pinheiro levou um computador com informação classificada do edifício do ministério das Infraestruturas. Na altura, segundo o ministro João Galamba, Frederico Pinheiro terá reagido com violência e agredido duas mulheres do gabinete que tentaram impedir que o ex-adjunto levasse o computador para casa.
Venda da TAP: “Será danoso e terá de ser muito bem explicado se o Estado vender por valor inferior ao que injetou”
Na mesma entrevista ao jornal “Público”, Frederico Pinheiro admitiu que foi surpreendido com o anúncio do Governo para a venda de pelo menos 51% da TAP, adiantando que não é o “momento certo” para entregar o “controlo” da companhia área a privados.
“A TAP está a valorizar-se. Estamos a falar de uma companhia aérea que daqui a um ano será mais valiosa. Daqui a dois anos ainda mais. É uma empresa que foi completamente reestruturada, está no caminho dos lucros, portanto não se compreende porque é que se vende agora sem nenhuma necessidade”, explicou, admitindo que a privatização "acelerou desde que Pedro Nuno saiu do Governo".
O ex-adjunto de Galamba disse ainda que se o Estado “entregar esse ativo por um valor inferior àquele que custou ao Estado Português” será“ um dano financeiro para o país”.
“Espero que o primeiro-ministro tenha tido o cuidado de não decidir a venda de um activo estratégico e fundamental para a economia portuguesa apenas por mero posicionamento táctico. Será danoso e terá de ser muito bem explicado se o Estado português vender por um valor inferior àquele que injectou na companhia”, acrescentou em entrevista ao “Público” no dia em que o seu livro e de Hugo Mendes, antigo secretário de Estado das Infra-Estruturas, sobre a TAP, com o título “Patos Desalinhados Não Voam”, vai para as bancas.
Também esta segunda-feira, tal como o JN noticiou, o ex-ministro Pedro Nuno Santos estreia-se na Sic Notícias, como comentador televisivo, num espaço semanal que promete ser incómodo para os seus adversários políticos.