Fugir da casa a arder: eles ficaram sem nada e agora precisam de tudo
Arderam 50 casas no concelho de Albergaria-a-Velha. A dos Silva, dos Azevedo, a casa das palmeiras enlouquecidas dos Céu e a de Maria Elvira, que o Sporting está a ajudar.
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António Azevedo, 66 anos, acordou imediatamente e vai sair a rastejar. Chamava-o o filho que mora na casa ao lado, 6.10 da manhã, 16 de setembro, Macinhata do Vouga, Albergaria-a-Velha. Ele e o filho, os dois de chinelos, t-shirt, calções, olham da rua para este, sentem o calor a ventar, um calor escuro, pesado, e congelam uns segundos. No vale à frente deles, vindo do monte da Sernada, o céu parecia que caía, uma parede inteira a tombar e andava, vinha movido a fogo. Nem pestanejaram, viram logo que tinham que fugir. “Vai à tua mãe!, vai à tua mulher!, eu vou já tirar o carro!”, disse o pai ao filho e saiu a voar. Apitou rua acima, deu a volta, continuou a alarmar, “fogo!, fogo!, fujam!”, e foi pôr o carro à rotunda, mais acima, a salvo, e desceu a pé a correr.
Não sabe quanto tempo passou, corria pelo meio do fumo, mãos à frente, via clarões, via estouros, no stand da DiCar os carros começavam a arder. Correu mais, ficou sem ar, chegou a casa esbofado, o dia começava a nascer, mas parecia que anoitecia.