A "Iniciativa Educação" da família Soares dos Santos já está no terreno, anunciou esta terça-feira Nuno Crato. O programa, que arranca com três projetos, teve um investimento inicial de 20 milhões de euros e a expectativa, assumiu José Soares dos Santos, é que produza resultados positivos nos próximos cinco anos.
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"É um sonho" do pai - o empresário Alexandre Soares dos Santos, fundador do grupo Jerónimo Martins, que faleceu em agosto - partilhado pela família, começou por explicar o filho, José Soares dos Santos: a construção da fundação dirigida para projetos no setor do ensino que melhorem a equidade. Isto é, que promovam oportunidades, especialmente a alunos que por dificuldades socio-económicas ou de aprendizagem a elas não tenham acesso. "Queremos melhorar a vida de crianças e jovens", resumiu, frisando que três projetos já arrancaram e que o objetivo é que consigam "taxas de sucesso suficientemente boas para que o país possa apostar neles".
Nuno Crato - um dos dirigentes da equipa a par de Inês Soares dos Santos e de Sara Miranda - sublinhou que a pretensão não é a fundação substituir-se ao Estado mas antes intervir em falhas dos sistema de ensino, "problemas reais", com "projetos exemplares, catalisadores, auto-sustentáveis e replicáveis".
Ler de A a Z
O último relatório PISA (Programa internacional de Avaliação de Alunos desenvolvido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, OCDE), publicado no ano passado, alerta que 19,7% dos alunos de 15 anos têm dificuldades em ler e compreender manuais de instrução, frisou esta segunda-feira Nuno Crato para justificar o primeiro projeto: "A a Z - Ler melhor, saber mais".
A fundação financiou a formação de professores tutores. A intervenção será feita em turmas de 1.º e 2.º anos em 25 escolas de 1.º ciclo de três regiões, Gondomar, Moura e Açores (ilhas de São Miguel e Santa Maria). Os alunos que manifestem dificuldades na aprendizagem da leitura e que estão a ser sinalizados começarão em dezembro a receber apoio, entre três a cinco sessões por semana, apontou João Lopes, professor da Universidade do Minho que irá coordenar este projeto.
Quando as dificuldades na aprendizagem são sinalizadas nos primeiros dois anos a probabilidade de serem corrigidas e de os alunos apanharem a média da turma é de 80% no 1.º e 2.º anos, mas desce para metade nos 3.º e 4.º e a partir do 5.º ano já é apenas de 10% "e com muita água benta", explicou o docente. Os alunos vão ser avaliados de três em três semanas e os professores também serão monitorizados pois o maior risco de um projeto "é a fiabilidade da sua execução".
"Ser Pro"
O objetivo do segundo projeto é o de valorizar o ensino profissional. O programa pretende agilizar e orientar a articulação entre escolas, empresas e autarquias na construção de cursos. A intenção "é ajudar a acontecer", frisou Nuno Crato.
O "Ser Pro" vai avançar em oito escolas, com 11 novos cursos e em parceria com quatro autarquias e 27 empresas. Por exemplo, apontou o ex-ministro da Educação, o curso de Técnico de Desporto Náutico, que irá nomeadamente avançar em Setúbal.
Nos vídeos de promoção do projeto já disponíveis no site, António Santos da Bicasco, sublinhou a carência de mão de obra especializada apesar de a náutica de recreio ter crescido exponencialmente em Setúbal. A parceria entre empresa e o agrupamento (Sebastião da Gama) permitiu que este curso ofereça em simultâneo a carta de marinheiro aos alunos.
"Pretendemos que estes cursos se vão replicando", admitiu o ex-ministro.
Os 11 cursos são em diversas áreas (outra oferta, por exemplo, é o de Técnico de Eletrónica, Automação e Computadores) em oito escolas de Sousel, Moura, Setúbal, Lisboa, Sacavém, Seia, Lagoa e Salvaterra de Magos.
"EDON" é o nome do terceiro projeto - uma base de dados com estudos e estatísticas sobre práticas desafios do ensino e pedagogia. "Um serviço para pais, professores, investigadores e estudantes com dados úteis para quem quer pensar a Educação", frisou Nuno Crato.