Galiza dobra salário para contratar médicos de família e pediatras portugueses
O Serviço Galego de Saúde (Sergas) colocou em marcha uma operação de recrutamento de médicos de família e pediatras em Portugal, oferecendo uma retribuição bruta anual de 61 500 euros - mais do dobro do salário de um médico em início de carreira em território nacional (cerca de 28 mil euros).
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A emigração de clínicos para Espanha preocupa a Ordem dos Médicos e pode atrasar ainda mais o objetivo de reduzir o número de utentes sem médico de família.
É a primeira vez que a Galiza lança mão da contratação de médicos portugueses. Segundo fonte do Sergas, contactada pelo JN, trata-se de "um novo tipo de contrato de continuidade para atender a substituições, especialmente nas categorias de medicina de família e pediatria" nos serviços de cuidados primários daquela região de Espanha.
Portugueses atraídos
O anúncio publicado recentemente já está a atrair portugueses, embora a fonte do Serviço Galego de Saúde não tenha adiantado números, nem de vagas disponíveis nem de candidatos interessados. "O Governo galego pretende abrir portas a profissionais de saúde de outras comunidades autónomas de Espanha e de Portugal. E começou por Portugal por razões de proximidade", informa o Sergas.
Os galegos pretendem fazer contratos com uma duração mínima de um ano e máxima de três. E as condições oferecidas são exatamente iguais às dos médicos espanhóis: um mês de férias e as mesmas licenças, folgas e jornada laboral, bem como salário igual.
O vencimento, aliado à proximidade, constitui-se como um importante fator de atratividade para os médicos e, ao mesmo tempo, uma "ameaça para o Serviço Nacional de Saúde" (SNS) que, atualmente, "já não tem capacidade de responder a todos os portugueses", nomeadamente nas especialidades de medicina familiar e pediatria, reconhece o bastonário da Ordem dos Médicos.
Comparando as condições de trabalho, Portugal fica claramente a perder, diz Miguel Guimarães, exemplificando com as remunerações, o apoio tecnológico e de dispositivos e materiais, além de outros incentivos, como impostos, férias e reformas. Há uma "discrepância grande" em relação à oferta salarial galega: "Considerando o vencimento médio de um assistente hospitalar, com subsídios de férias e de Natal, é seguramente 40% superior ao valor em Portugal".
Défice de Pediatras
Jorge Amil, presidente do Colégio da Especialidade de Pediatria, encara a contratação galega com preocupação, tendo em conta que "o vencimento razoável que se oferece contrasta imenso com o que os nossos serviços pagam aos profissionais". Alude a um cenário de "sangria contínua" dos serviços públicos, provocada por "uma espiral de insatisfação" que "está a levar também a um real défice relativo de pediatras no SNS".
Para Rui Nogueira, da Associação de Medicina Geral e Familiar, "fica difícil cativar os colegas para ingressarem na carreira médica sem outros motivos de atração". Um recente levantamento apurou que em 10% das unidades de saúde havia mais de 30% de utentes sem médico de família.
Contactado pelo JN, o Ministério da Saúde não quis reagir.
Vencimento em Espanha
4390 euros
É este o salário bruto que está a ser oferecido pelo Serviço de Saúde Galego aos médicos portugueses, segundo o anúncio de recrutamento do Sergas.
Salário em Portugal:
2000 euros
Em início de carreira, um médico ganha cerca de 2000 euros brutos por mês no nosso país, segundo Jorge Amil, do Colégio da Especialidade de Pediatria.