O general Garcia dos Santos, que hoje morreu aos 89 anos, foi um dos cérebros operacionais do 25 de Abril, responsável pelas transmissões, essenciais ao sucesso do golpe, passou pelos governos provisórios, chefiou o Exército e denunciou corrupção na Junta Autónoma das Estradas.
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Especialista em comunicações, um dos cérebros operacionais do “movimento dos capitães”, teve a responsabilidade das ligações do posto de comando do MFA na Pontinha.
Amadeu Garcia dos Santos nasceu a 13 de agosto de 1935, no Bairro Alto, em Lisboa. Estudou no Colégio Caliponense e no Liceu Passos Manuel. Completou o curso de Engenharia da Escola do Exército em 1960.
Foi professor na Academia Militar e cumpriu duas comissões na Guerra Colonial: na Guiné (1962-64) e em Angola (1968-70).
Na preparação da Revolução dos Cravos, Garcia dos Santos, à época tenente-coronel, é chamado para conceber o plano das transmissões, a convite de Fisher Lopes Pires.
Ficou, assim, encarregado do chamado “Anexo de Transmissões”, documento que contém todo o apoio de Transmissões concebido para o sucesso da operação “Viragem Histórica".
“As Transmissões Militares do Exército desenvolveram uma atividade que se veio a manifestar de absoluta importância para o sucesso das operações”, lê-se num artigo académico do militar Pedro Pena Madeira sobre “As transmissões militares no 25 de Abril”.
Garcia dos Santos toma parte na operação militar do 25 de Novembro de 1975 – que poria termo ao Processo Revolucionário em Curso (PREC) - ao lado dos moderados e de Ramalho Eanes, que foi o comandante operacional.
Foi membro do Conselho da Revolução e secretário de Estado das Obras Públicas no II, III e IV Governos Provisórios, liderados pelo primeiro-ministro Vasco Gonçalves, e também no VI Governo Provisório, do primeiro-ministro Pinheiro de Azevedo.
Foi chefe da Casa Militar do Presidente da República António Ramalho Eanes e chefe do Estado-Maior do Exército, entre 1982 e 1983.
Entre 1997 e 1998, durante um governo de António Guterres, foi presidente da então Junta Autónoma de Estradas, tutelada pelo ministro João Cravinho. Após a saída da JAE, dá uma entrevista em que denuncia corrupção na instituição.
A JAE é extinta pouco depois e Garcia dos Santos recusa em tribunal nomear os corruptos, sendo condenado a pagar uma multa.
Em 2001 disse numa entrevista que os "problemas passavam pela forma como se lançavam e realizavam as obras" e a corrupção sentia-se "através de projetos mal feitos e mal conduzidos", que se "faziam propositadamente errados para que determinada empresa ganhasse ".
Em 2014 Garcia dos Santos demite-se do Conselho das Ordens Nacionais, em divergência com o Presidente da República de então, Aníbal Cavaco Silva, que o tinha convidado para esse órgão em 2011.
“É o principal culpado pela situação do país”, declarou Garcia dos Santos na altura.
De acordo com o Exército, o velório de Garcia dos Santos será no domingo entre as 16 e as 23 horas, na capela da Academia Militar, em Lisboa.
No dia 07, segunda-feira, o velório será retomado às 10:00, seguido da missa de Corpo Presente pelas 11 horas. Posteriormente, o cortejo fúnebre seguirá para o Cemitério do Alto de São João, onde o corpo será cremado às 13 horas.