Este ano, pela primeira vez, a primeira intervenção helitransportada vai ser da responsabilidade do GIPS da GNR. Cabe-lhe evitar que chamas assumam proporções de tragédia.
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O sol, anormalmente quente para uma manhã primaveril, parece ter sido encomendado pelos formadores dos novos recrutas do Grupo de Intervenção, Proteção e Socorro (GIPS) da GNR. Os 14 pelotões em formação, num total de 396 homens e 12 mulheres, estão distribuídos pelas múltiplas atividades constantes do plano de curso, na Escola da GNR na Figueira da Foz. Há aulas teóricas e técnicas, treino físico e muita prática. As notas dominantes são a disciplina, a coordenação, o espírito de equipa, a boa forma física e psicológica. A carga horária raramente fica abaixo das 16 horas diárias. E o ritmo da exigência só abranda depois das "aulas". O objetivo é que cheguem ao próximo dia 15 com as rotinas bem assimiladas. Quer no combate de primeira intervenção quer no combate ampliado. Os dias quentes que se têm feito sentir nas últimas semanas têm servido na perfeição para aproximar a instrução dos cenários reais que se perspetivam para o verão.
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Criado em 2006, no rescaldo dos grandes incêndios do ano anterior, o GIPS surgiu como uma grande aposta no combate helitransportado de primeira intervenção. Os resultados, em termos de eficácia, sempre estiveram acima dos 98%. Mas, com a crise e a criação das equipas helitransportadas afetas aos bombeiros, esta unidade perdeu peso no sistema nacional de combate a incêndios.
Este ano, o Governo voltou a apostar na preparação e determinação dos militares para evitar que se repitam os cenários verificados em junho e outubro de 2017. Exemplo disso é a promessa de entrega de novo equipamento para apoio ao ataque ampliado e a abertura do curso que decorre na Figueira da Foz, que vai duplicar o número de efetivos, passando a unidade a contar com um total de quase 1100 elementos.
O JN acompanhou parte do treino dos futuros operacionais e testemunhou o grau de rigor exigido aos recrutas. "Ó chefe estamos a dormir? Olha a cabeça, olha a cabeça [do fogo]", gritava o capitão João Fernandes, diretor do curso, enquanto uma brigada lutava contra as chamas, ateadas propositadamente nas imediações do Parque Industrial Manuel da Mota, em Pombal.
Os cinco homens tinham acabado de ser largados por um helicóptero, para mais um exercício, o mais importante da fase de formação. Equipados com batedores, pás, ferramentas que fazem de enxada e ancinho, e reservatórios com 20 litros de água, tinham como missão debelar o pequeno incêndio que lavrava em zona de mato. Sem pausas, nem hesitações. As altas temperaturas sentiam-se a vários metros de distância, assim como a respiração ofegante dos militares.
Em menos de 10 minutos, e com o auxílio das descargas entretanto efetuadas pelo meio aéreo, o fogo foi dado como extinto. Depois, seria feita a análise do que correu bem e do que pode ser corrigido, para que nada falhe em cenário real. "O objetivo é ensinar a gerir o esforço no terreno e a lidar com o comportamento do fogo", explica o capitão Fernandes.
Cada brigada helitransportada tem de estar preparada para permanecer no terreno durante hora e meia. E, além do combate direto, pode ter de fazer faixas de contenção, o que implica cortar o combustível florestal para travar as chamas. "É um trabalho que pode ir até à exaustão e que exige muita preparação física e psicológica. Os militares têm de estar preparados para gerir os 90 minutos, que se podem prolongar por dias a fio", quando começar a época de incêndios, sintetiza o capitão Fernandes.