O candidato presidencial Gouveia e Melo indicou a habitação, saúde e imigração como os "problemas graves" da sociedade portuguesa que geram ódios e com isso afeta-se a democracia a longo prazo.
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"Nós temos problemas graves na sociedade portuguesa. Além dos fogos que foi evidente, temos problemas gravíssimos de habitação que está a deslaçar a nossa própria sociedade, a criar problemas tremendos dentro da nossa sociedade", indicou.
Aos jornalistas, disse ainda que Portugal tem também "um problema de saúde" e que os portugueses têm essa perceção. "E há um problema também, indiretamente, com o problema da saúde, o fenómeno da migração", acrescentou.
Para Gouveia e Melo, "esse problema é ainda mais complexo, porque a nossa economia também precisa de imigrantes e, portanto, tem que haver uma boa gestão". "Temos um problema de se estar a gerar ódios dentro da nossa sociedade, em vez de confiança e isso vai afetar a nossa democracia, de forma direta ou indireta a médio e longo prazo", considerou.
Neste sentido, afirmou que é necessário "gerar confiança, gerar esperança e realizar coisas" e não "andar a prometer e nada acontecer".
Referindo-se aos incêndios, o candidato presidencial questionou se "esta situação dos fogos é aceitável". "Se não é aceitável, o Estado fez tudo o que podia ter feito para evitar ou não?", perguntou, acrescentando que não fez e que é necessário fazer "melhor e diferente".
Gouveia e Melo visitou pela primeira vez a Feira de São Mateus, que este ano vai na 633.ª edição, e das pessoas ouviu palavras de incentivo e de apoio, tirou fotografias e ouviu pedidos para "quando ganhar, educar o Governo, que precisa de ser educado". Aos jornalistas, Gouveia e Melo admitiu não concordar com a necessidade de educar o Governo, porque "nenhum presidente educa um governo, acompanha quando tem de acompanhar, ajuda quando tem de ajudar e chama a atenção quando tiver de chamar à atenção", como faria, disse, para os "problemas graves" que descreveu.
Durante a hora que a agência Lusa acompanhou a visita, Gouveia e Melo abordou temas como a sustentabilidade e a erradicação da pobreza e fez um rastreio à sua tensão arterial, que estava a 7-10. "Estou aqui em grande forma física", reagiu.
Questionado sobre se se manteria assim no caso de ser eleito e perante situações como as que o país vive atualmente com os incêndios, Gouveia e Melo puxou a si a veia militar. "O meu treino, o meu passado militar, permite-me enfrentar situações muito difíceis mantendo a tensão controlada, no entanto há coisas que têm de ser ditas e há momentos em que não podemos esperar para dizer certo tipo de coisas", assumiu.
Gouveia e Melo criticou a organização da proteção civil, invocando a sua experiência de "comando e controlo", e defendeu a necessidade de pensar a floresta a médio e longo prazo. "De comando e controle, sendo militar, julgo que tenho alguma coisa para dizer. As linhas de comando e controle têm de ser fluidas, simples e diretas. Quando são demasiado complexas, não fluidas, metem muitas agências, muitas entidades, no terreno depois, em stress, não funcionam e, quando não funcionam, acontece o que estamos a ver hoje todos nós portugueses", apontou o almirante na reserva Gouveia e Melo.
O candidato a presidente da República defendeu a criação de um plano para as florestas a médio e longo prazo e não de um ano para o outro ou que mude em ciclos curtos. "Não podem ser só ações de curto prazo. Não podem ser ações para escapar a uma pressão mediática a que estou sujeito, eu o Governo, a governação, mas ações verdadeiramente de médio e longo prazo que vão ajudar a resolver o problema", defendeu.
Estas ações, referiu Gouveia e Melo, deveriam nascer de uma base que resumiu em três pontos: "criar uma economia para a floresta para ela ser rentável; remodelar o interior e dar uma outra importância ao interior; prevenir de outra forma e também combater de outra forma, quando os incidentes aparecem". "E depois temos de ser persistentes nessas ações. Não posso desenhar um conjunto de ações, parece tudo muito bem e depois, passado um ano, esqueço-me das ações", criticou.
No seu entender, com o tempo já não se investe nessas ações e como a floresta ainda não tem combustível suficiente, passam-se "cinco ou seis anos de acalmia e depois vem o cataclismo" por causa das alterações climáticas. "E, nesse cataclismo, já se esqueceram das origens. E as origens foram há sete, seis, cinco anos. Portanto, de alguma forma também é muito injusto estar a massacrar este Governo já já, porque tem de ter tempo para tomar as suas medidas", considerou.
Sobre a situação atual, Gouveia e Melo considerou que "a primeira coisa já foi feita, que foi corrigir a atitude", indicando o fim das férias do primeiro-ministro, Luís Montenegro. Sobre as medidas apresentadas, reforçou a necessidade de "além das medidas a curto prazo, são necessárias as de médio e longo prazo" e não podem ser esquecidas, "só porque já passou o stress e a agenda mediática". "Não podemos voltar a isto. Temos de ter coragem, de uma vez por todas", salientou.