Gouveia e Melo quer ser "um presidente estável, confiável" e diferente de Marcelo
Está lançada a candidatura de Gouveia e Melo às presidenciais de 2026. O almirante afirmou que não conseguiu ficar de "braços cruzados" perante "os sinais de cansaço, desânimo e desencanto" da democracia portuguesa. No discurso, distanciou-se de Marcelo e disse que é preciso um presidente capaz de "unir os portugueses"
Corpo do artigo
Na Gare Marítima de Alcântara, o antigo chefe do Estado-Maior da Armada e ex-coordenador da task force da vacinação contra a covid-19 começou por alertar que o mundo mudou muito nos "últimos três anos", tempo durante o qual ponderou a candidatura e sentiu "um crescente apelo" para avançar.
"O mundo mudou muito, veem-se nuvens carregadas de incertezas e de perigo no horizonte. A guerra voltou ao coração da Europa, destruindo a ilusão de uma paz garantida. O ocidente vacila, desorienta-se, perde rumo. Os EUA já não garantam segurança, lançam incertezas, a força tenta impor-se à razão. A economia global está a retrair e, com ela, esmorece a esperança. As democracias são atacadas por fora e corroídas por dentro. Portugal não está imune, nem isolado numa redoma protetora. São claros os sinais de cansaço, desânimo e desencanto na nossa jovem democracia. E é por tudo isto que aqui estou", afirmou perante uma plateia de 400 convidados.
"Não consegui ficar de braços cruzados, porque amo este país e sinto que é meu dever agir com a mesma entrega como servi a Marinha, as Forças Armadas e Portugal durante 45 anos. Com a mesma coragem com que jurei dar a vida pela pátria se necessário, com o mesmo compromisso que defendi a liberdade, a Constituição e os interesses de todos os portugueses", prosseguiu.
Presidente estável e confiável
Apontando para o futuro, virou rapidamente a agulha para Marcelo Rebelo de Sousa ao dizer que é necessário um presidente capaz de "unir os portugueses, de motivar e dar sentido à esperança, capaz de ser consciência e exemplo, de ajudar a mudar aquilo que há tanto tempo precisa de ser mudado".
O almirante salientou que é necessário "um presidente estável, confiável e atento, acima de disputas partidárias, longe das pressões e fiel ao povo que o elegeu", não sendo apenas "um mero espetador da vida política, mas que interpele e exija quando necessário". E insistiu ao considerar que este deve fazer-se ouvir e usar a palavra com "contenção, com substância e com propriedade".
"Se os Portugueses me derem o seu voto, cumprirei com lealdade as funções que a Constituição me confia: defender a independência nacional; garantir o funcionamento das instituições democráticas; ser árbitro e moderador", acrescentou.
Sobre os desafios para os próximos anos, Gouveia e Melo notou que persistem fragilidades, destacando a "pobreza estrutural" e uma "economia frágil que precisa de crescer mais e distribuir melhor". "Temos jovens que partem, famílias sem casa, idosos esquecidos, serviços públicos sob pressão e imigração sem integração", alertou.
Ainda assim sublinhou que é importante "promover a coesão nacional" e "representar Portugal com orgulho e com dignidade". "Precisamos de uma Defesa Nacional moderna, sólida e tranquila, sem alarmismos, mas também sem ingenuidades", disse. Lembrou a capacidade de "celebrar e proteger" um Portugal com portugueses de sucesso no estrangeiro e de "imigrantes que escolhem Portugal como casa".
E terminou com um desafio: "Vamos fazer do futuro de Portugal a nossa casa comum".
Henrique Gouveia e Melo, 64 anos, destacou-se no combate à pandemia de covid-19, tendo coordenado todo o processo de vacinação. Depois de se ter destacado publicamente nesse trabalho, foi nomeado Chefe do Estado-Maior da Armada e promovido ao posto de Almirante.
Gouveia e Melo junta-se assim a Marques Mendes, antigo líder do PSD, na corrida às eleições presidenciais, que se deverão realizar no início do próximo ano.