Uma das suas primeiras missões será escolher militar para um lugar que está por preencher há meio ano. Críticas à escolha do vice-almirante mantêm-se.
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Com a Marinha a navegar há meio ano sem comandante naval - o posto operacional mais importante -, o vice-almirante Gouveia e Melo, que toma hoje posse no Palácio de Belém pelas 15 horas como Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), tem esta questão premente para resolver. E uma das primeiras medidas que deverá tomar será indicar um militar para o cargo, já que Oliveira Silva, um dos nomes avançados pelo CEMA agora exonerado, almirante António Mendes Calado, foi rejeitado em setembro pelo ministro da tutela e o segundo, Nobre de Sousa, indicado em novembro, ficou sem resposta do Governo.
A resolução deste impasse é, aliás, apontada no meio militar como o motivo que precipitou a nomeação do novo chefe da Armada na época de Natal e em vésperas de eleições legislativas.
Há três meses, o almirante Melo Gomes, antigo CEMA, apelidou este processo de "trapalhada", e assim continua a ser vista pelos militares a série de episódios que culminaram na exoneração do almirante António Mendes Calado, sem que tenha sido avançada uma explicação oficial que justifique o afastamento do militar que ficará com o carimbo de exonerado no currículo.
O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, procurou esvaziar a polémica, garantindo que Mendes Calado cumpriu as suas funções "de uma forma muito brilhante", e reiterou que o mesmo "se mostrou disponível para encurtar o mandato". Anunciou que o irá condecorar com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo.
Sai contra a sua vontade
Contudo, Mendes Calado, que tinha ainda mais de um ano de mandato pela frente, acabaria por afirmar publicamente, num vídeo divulgado na quinta-feira, na página oficial de Facebook da Marinha, que não abandona o cargo por vontade própria, afastando assim a hipótese de que a saída nesta altura possa ter sido previamente acordada aquando da sua recondução, em fevereiro deste ano, para que cedesse o lugar ao vice-almirante Gouveia e Melo quando este cessasse as funções de coordenação da task force da vacinação, para as quais fora destacado no início do ano.
Porquê sair agora?
No meio militar, tornou-se difícil perceber o "timing" da nomeação de Gouveia e Melo, tendo em conta que o vice-almirante só atinge o limite de idade no posto - 62 anos - em setembro de 2022. "Não era necessário fazer isso agora; não faz sentido nenhum. Podiam perfeitamente nomeá-lo em junho", observa o tenente-coronel António Mota, da Associação de Oficiais das Forças Armadas. Esta opção permitiria que Mendes Calado, que se manifestou contra a reforma da estrutura superior das Forças Armadas levada a cabo pelo Governo, cumprisse pelo menos metade do mandato.
Ao JN, algumas patentes militares alertam que a forma como o processo foi conduzido está a gerar incómodo entre o almirantado, até porque há vice-almirantes mais antigos do que Gouveia e Melo que poderiam ascender a CEMA, como é o caso do chefe da Casa Militar do Presidente da República, vice-almirante Sousa Pereira, que se opõe à nomeação do ex-coordenador da task force da vacinação. Antecipa-se algum mal-estar no resto da Armada e teme-se que a legitimidade do novo CEMA, que chega ao cargo a partir da exoneração de um camarada, acabe por ficar beliscada.